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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A lição da rosa

Tive um "deslumbramento".
Um dia desses, chegando em casa, topei com uma roseira.

Bom, ela sempre esteve ali, eu que nunca tinha notado. Mas era um daqueles dias que por diversos motivos as coisas estão mais coloridas, o dia mais bonito. Não me lembro o por quê de estar assim, mas lembro-me bem de passar por ela e pensar "que rosa linda!".

Logo eu que não gosto muito de rosas! Herdeira do modernismo, a rosa me soa piegas demais.

É um botão apenas, bem vermelho. Com todas as pétalas abertas, um botão grande e solitário. Nem me lembrava dela.

Dias atrás choveu. Uma daquelas chuvas de verão que faz estrago, com direito a granizo e muito vento. Tomei essa chuva. Cheguei em casa gelada e com dor no ouvido.

Dias depois, saindo do prédio onde moro, às pressas, passei pela roseira de novo.

...

Peraí...

Ela estava lá, intacta. Como se nada tivesse acontecido.
Mas que coisa! Choveu pra caramba! E os granizos?

Estavam lá todas as pétalas, o mesmo brilho. Nem machucada estava!

Agora, senhoras e senhores, podem me dizer como uma rosa solitária está inteira depois de um vendaval?

Ela ficou ali, imóvel. E sua existência caçoava de mim.
Eu, representante do último grau da cadeia alimentar, ser racional, inteligente, intuitivo, imagem e semelhança do Criador, logo eu fugi da chuva com a mesma velocidade que formigas atacam o açúcar. E ela, frágil, pequena, delicada e bela estava lá, firme e forte.

"Você é fraca" - disse-me com olhar perturbador. "Fraca porque acredita que as tempestades da vida são castigos do céu, dos quais precisa fugir para sobreviver. Fraca porque não entende que tudo faz parte, tudo te deixa mais forte e mais bela. Fraca por ter medo de viver plenamente. E viver plenamente é não se proteger e depender da soberania de quem te criou. Se sou rosa e fico ao ar livre devo ser dotada com defesas suficientes para viver assim. E por ser fraca, não sabe o gosto e o prazer que há nas gotas de orvalho, no sol quente do meio dia, no vendaval e nos granizos. Não consegue apreciá-los com um sorriso. Você, pensando que, por sentir e pensar é o ser de mais vida. Na verdade, você mal vive!"

Fui embora com a lição da rosa guardada no peito. E disposta a curtir o próximo temporal!