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quarta-feira, 15 de julho de 2015

Do Éden à Geração Y...Z...

Jamais pensei que estaria aqui, sentada de frente ao computador sem saber por onde começar. Quase aos trinta, não é a idade que me incomoda. Apesar das piadinhas, não ligo a mínima para a quantidade de velinhas de meu bolo, nunca liguei.

Na verdade, acho envelhecer algo nobre. Sou melhor hoje, e não é apenas um chavão politicamente correto; é verdade. Levei trinta anos para ser quem sou, aprendi muito com a vida e com meus tombos, e não, não voltaria no tempo: não quero fazer as mesmas burradas de novo, tampouco sentir as mesmas dores do crescimento (literais e psicológicas). Dispenso as espinhas, mesmo que tenha saudade do corpão juvenil.

Tudo tem seu preço: somos jovens belas descabeçadas ou ingênuas (ou os dois); depois somos espertas e sábias e não tão belas. Bom, defina bela! Afinal, a pressão social do corpo eternamente jovem é cruel e surreal. Então, poupe-me do blá-blá-blá que faz das academias um bom negócio (e os fabricantes de barrinhas de cereais).

Nada contra uma vida saudável mas... defina saudável!

É saudável não curtir a vida pela neura de quilinhos a mais? É saudável dormir depressiva porque você não entra mais no seu vestido de 15 anos? É saudável a privação excessiva, a baixa auto-estima, o olhar baixo apenas porque você envelheceu e não tem mais vinte e poucos? Não, não é!

Quero muito ser gente, gente de verdade! Gente que envelhece com um sorriso no rosto, e nem sou das mais expansivas e simpáticas das pessoas. O que quero dizer é que quero ser o tipo de gente que tem um brilho nos olhos apesar das rugas. Gente com história pra contar, com sabedoria e amor para doar, gente acolhedora por aquilo que é como gente, e não pelo seu manequim.

Quero ser uma daquelas velhinhas que sorri discreta, aquele sorriso cheio de sabedoria de quem já viveu o suficiente para se importar com coisa tão trivial e vã como o ponteiro da balança. Gente que vira "matrona" com orgulho, que gosta de ter netos, que curte envelhecer por ter construído e vivido uma boa história. Gente que não apenas envelheceu, mas cresceu.

Há um problema sério de valores em nossa sociedade, e faz tempo que sabemos disso. E um dos sintomas é que o corpo escultural sob um molde surreal é mais apreciado socialmente do que mechas brancas, experiência e o ser boa companhia. Estamos, como humanidade, valorizando demais o glacê do bolo, esquecendo do bolo. Pior: esquecendo do aniversariante!

Focamos o trivial, a decoração e deixamos passar o que sustenta, o que é essência. Deixamos passar em branco a vida atrás de ilusões de capa de revista.

Quando foi que acreditamos que a marca do celular importa, ou que alguma marca importa, acima de seu usuário? Quando passamos a tomar por verdade que "o importante é ser feliz" acima das pessoas, acima dos pactos que firmamos, acima de nossas responsabilidades, acima de nossa dignidade? Quando a carcaça passou a valer mais, muito mais, do que o conteúdo?

Ah é... tinha me esquecido. Foi quando nos entronizamos no centro do mundo. Um velho problema, e uma velha distorção da verdade...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Porque tive sede


Quando ficamos muito tempo expostos ao calor, ou algumas horas sem ingerir líquidos, a sede vem. Claro que há água em quase tudo que ingerimos, em porcentagens diversas: nos sucos, no leite, nos refrigerantes, na comida, nos temperos, nos caldos... Mas nada como água, límpida e refrescante. No calor do mundo globalizado e superaquecido, gelada de preferência.

Imagine, agora, a cena: um dia cansativo, de atividades estafantes, sob o sol, na correria. Seu corpo dói e transpira por todos os poros. Beber um copo d'água, ajuda; mas e tomar uma ducha? E que tal uma piscina? O que acha de mergulhar num lago com cachoeira de água mineral transparente e geladinha, com cheiro de mato, de terra molhada, de vida? Melhor...muito melhor!

E quem tem a experiência do mergulho acha tão sem gracinha o copo d'água gelado, não que não seja bem vindo. Mas acha intolerável ficar sem água pura. Depender da porcentagem que vem no resto não basta, não para quem teve em abundância.

Pois é...

Hoje percebo que, para não sentir a sede, ou a saudade, do banho pleno, preferi fingir que ele não existiu. O apaguei, o escondi nos recônditos de minha memória, para ensinar meu corpo espiritual a se sustentar com goles de água morna filtrada; porque a sede da cascata dói!

Mergulhei de cabeça. há dez anos, na experiência de deixar-me levar pela corrente do Espírito Santo. Aprendi em pouco tempo a deixá-lo governar, e fazer de mim, pequeno serzinho boiando à Sua deriva, o que quisesse. Mergulhei na experiência de ser usada todos os dias por Deus; de ouvir sua voz todos os dias; de cantar louvores a seu nome todos os dias; de vê-lo através dos olhos de meus companheiros de jornada; de ouvi-lo falar em suas bocas, de presenciar seu agir em nós. Mergulhei de coração na plenitude das águas: límpidas, transformadoras, avassaladoras, edificantes, refrescantes.

E voltei para casa. Nos primeiros meses a sede era tal e com tanta intensidade que doía nos ossos. Vertia lágrimas quase todas as noites. Tinha sede, insaciável. E sair do oásis para uma terra seca, vulgo o mundo real, com seus problemas e suas feridas, doía mais. Há água para todos! Por que vocês não veem? Porque se satisfazem com água barrenta, morna?

Mas com o tempo cansei-me de sonhar nostalgicamente com o mergulho. Com o tempo, paulatinamente, fui ensinando meu espírito a se contentar com copos gelados e duchas frias; depois com copos mornos; depois refrigerantes; depois nem isso. Ao ponto de me questionar se o mergulho foi real. Será que não imaginei tudo aquilo? Será que não supervalorizei? Será mesmo que fui feita para nadar em correntes profundas? O mais grave: será que fui feita para nadar?

Andei pelo deserto, e Deus me trazia para fontes de águas, às vezes; não desistiu de não permitir que eu esquecesse o sabor da água fresca de Sua presença transformadora. Entre um poço e outro, o humor era variado: às vezes confiante, outras desesperado; outras ainda indiferente.

Mal sabia eu que estava sendo guiada de volta à fonte. Comecei a sentir o cheiro das águas, mas não quis crer; passei a perceber o ar úmido e gotículas em minha pele e cabelos; molhei meus pés em poças uma ou duas vezes; choveu fino. O Senhor ia umidificando de novo minha vida, trazendo de novo, por sua misericórdia e graça, o agir molhado e envolvente do Espírito Santo. Entrei em um rio raso, que cobriu-me até a cintura, e decidi caminhar. Sai dele às vezes, mas seguia seu curso; buscava seus sinais nas pessoas, nos eventos, em minha história. 

Ao longo da jornada, ao me afastar do rio, ouvia a repreensão: Não vá longe! Volte aqui! Elisa, pra água já! Obedeci, às vezes...

Então Deus levou-me por um caminho numa encosta, enquanto eu ouvia o som da queda; ouvia o som de águas limpas borbulhantes. Arranhei-me um pouco na subida. Ao chegarmos no topo, olhei para baixo e aos meus pés, logo ali, uma corrente que levava a uma queda, que levava a um poço transparente; uma fonte funda e límpida. Um manancial frutífero.

- Vamos, pule!
- Quem, eu?
- Isso...
- Mas faz tanto tempo...
- É como andar de bicicleta!
- Mas estou um tanto sem prática, sabe como é... Não me lembro como faço isso, não...
- Certo, me dê a mão.
- Vai me empurrar para lá?
- Não: vou te ensinar de novo como é que pula; eu vou com você!
- Mas... tem certeza, sério mesmo? Vamos dar a volta e entrar aos pouquinhos, pé no chão...
- Tem lama na borda, eu quero você limpa e inteira lá dentro.
- Mas... tá gelada!
- E tem jeito melhor de entrar numa água gelada que não de vez?
(silêncio)
- Elisa... vamos um salto de cada vez.
- Eu tenho medo... não sei se sei nadar...
- Apenas pule!

E Ele me deu um fim de semana do mover do Espírito Santo. Voltei a ver brilho nos meus olhos e nos dos outros; voltei a ser canal de bênção; voltei a ser quem sempre deveria ter sido. Voltei para o fundo de uma cascata gelada.

E agora?

Não sei... O Senhor mandou eu ficar acampada por aqui. Acho que vai me ensinar a nadar. Pescar, talvez...