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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Apertando a tecla "Dane-se!"

A Camila Campos, meu muito obrigada!

Minha geração é a que nasceu atrasada, mesmo sendo pontual. A que dá explicações para coisas que nem precisam delas. A que quer entender o mundo e, de preferência, manipulá-lo. Geração informação, tem acesso e passaporte.

Somos cidadãos do mundo. Entendemos como um terremoto no meio do nada mata nada menos que um monte de pessoas em algum outro lugar.

Também somos a geração dos recordes. Nascemos num mundo onde é possível alcançar o inimaginável. A geração prodígio, herdeira de conquistas sociais, do livre pensamento, da democracia (mesmo que imperfeita), da liberdade, do capital e seu capitalismo, do consumismo, da internet. Do tudo pra ontem, de preferência pronto e sem complicações.

Somos a geração veloz. Temos fast-food, banda larga, 16 cavalos de potência nos carros populares, metrô, via expressa, Rodoanel. Faculdade em 2 anos, sites de relacionamentos, celulares. Nascemos plugados e vivemos à velocidade da luz, virtuais.

E por tudo isso, correndo contra o tempo (voando, de preferência), é que não crescemos. Porque crescer leva tempo demais! Ter tempo de dar tempo ao tempo nos exige um tempo que achamos que não temos. Queremos que tudo esteja bem, amadurecido e pronto, já.

Queremos que um relacionamento tenha maturidade de 30 anos em 3. E queremos controlar, tal qual manipulamos a tecnologia, as circunstâncias ao nosso favor. De preferência, controlar tudo, e todos. Prever reações e reagir antes delas. Prever pensamentos, manipular sentimentos e nos precaver. Crianças manhosas e birrentas, somos nós!

Mas esquecemos que as coisas que não são modernas, antigas são, e funcionam sob as regras milenares fundamentais. Cumplicidade é um conceito antigo, lealdade sua irmã. Amor então... velho de guerra, já foi cantado, odiado, buscado, pleiteado, subjugado, manipulado, idolatrado, incompreendido, explicado, vivido. É tão carne de pescoço, e ainda vende! Está nos filmes, nas tragédias, nos Best Sellers. Nas igrejas, nos bordéis, nas praças, nos shoppings. O que seria das novelas, das histórias, do comércio, dos livros, das artes sem romance?

Relação básica humana universal, anda nos mesmo passos e ritmos que sempre andou. Os enredos, reais ou fictícios, se repetem inexoravelmente. Mas somos velozes demais para compreender seu curso, e por isso mesmo, erramos rápido demais.

Suas regras saídas do museu nos são estranhas porque pertencem a um mundo em que não se controlava quase nada, e havia tempo para dar-se ao tempo. Cartas que levavam meses para chegar ao destino, anos para serem respondidas. Havia tempo para pensar no que dizer, no que sentir, no que esperar. Havia tempo para ter certeza. E mais, havia tempo para perder, para não se preocupar. E havia a certeza de que, apesar de todos os esforços, tudo pode dar errado. Um vendaval, uma guerra, uma má colheita. As pessoas já foram tanto mais conscientes quanto mais solícitas à fortuna.

Ela existe, apesar de nossa pressa e nossa aparelhagem. Ainda tudo pode acontecer, como não acontecer. E essa geração manipuladora, a que faço parte, entra em pânico depressivo quando algo nos escapa ao controle. Ora, ora, quem somos nós?

Precisamos de freios para caminhar no tempo das relações humanas, o tempo que elas exigirem, ao seu tempo. E precisamos admitir que não somos senhores de todas as coisas. Nem as que nos dizem respeito!

Então, já que não controlamos as circunstâncias, nem o que pensam de nós, o que sentem por nós, ou o que vai acontecer... já que nossa ansiedade, e medo, e insegurança não implicarão na certeza de resultados... já que não estamos prontos quando queremos e não há software de atualização que agilize o aprender a viver... Dane-se! Nos preocupar demais pra quê?

Vamos dar tempo ao tempo que nos recompensará com tempo de sobra pra viver tempos reais e duradouros.

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