Sofro da "síndrome da mais velha". É uma doença psicológica e, apesar do nome, nem todos os "mais velhos" têm, mas a maioria. Não sei o motivo, mas nos sentimos responsáveis, por tudo e por todos. Queremos suprir as expectativas, queremos não errar. Sentimos a necessidade visceral de sermos maduros, exemplares, líderes - sempre. Regramos nossas vidas, nossos pensamentos, nossas escolhas, nossos desejos, nossa história para que seja o discurso do "como as coisas devem ser" e "o que os maduros fazem". E isso, desde o tempo em que nem tínhamos idade para sermos maduros.
E não é culpa de ninguém em especial. Nem todos os mais velhos se sentem assim. Não é resultado direto de pressão externa, de lavagem cerebral, de educação rígida, de cobranças paternas ou sociais. Ás vezes é uma mistura de tudo, outras de nada disso. Creio que nascemos assim.
Então abrimos mão sempre, principalmente de nós mesmos. De nossa fraqueza, do direito de aprontarmos quando crianças, quando adolescentes, quando adultos... Abrimos mão do que queremos, e nos mutilamos várias vezes; arrancamos parte de nossa identidade mais íntima para sermos aquilo que todos os mais novos precisam que sejamos. A cada passo dado, a cada decisão tomada, sempre uma "nuvem de testemunhas" nos acompanha: cada ação é pensada à luz dos impactos que suas consequências provocarão nos demais, nos que se espelham em nós, nos que seguem nossos passos, nos que nos respeitam e estimam. Pesamos expectativas e consequências a cada segundo, e decidimos, na maioria das vezes, em ser o papel proposto: os responsáveis, os admiráveis, os líderes - os mais velhos. Carregamos o peso das dores dos outros, e o peso de ser o conselheiro da maioria; e carregamos com prazer. Essa é a nossa identidade.
Mas às vezes, raras vezes, surtamos. De diversas formas. Alguns têm crises de choro que ninguém vê; outros têm hobbys só deles, outros têm diários. Alguns têm amigos, outros têm cachorros. O fato é que em algum momento precisamos admitir nossa fraqueza e loucura; nossos desejos e ambições; mesmo aqueles que estão acima das regras que nós mesmo estipulamos para nós mesmos. No fundo, no fundo, somos profissionais da vida: somos os "mais velhos" com profissionalismo brilhante, mas chega a hora de irmos para casa. Às vezes precisamos fugir.
E por quê? Bom, porque nossas fraquezas assustam aqueles que vêm em nós uma fortaleza. Nosso choro assusta aqueles que vêm em nós segurança. Nossos deslizes deixam os que acreditam que somos inabaláveis, embasbacados. Nossos momentos de loucura infantil, de irresponsabilidade, de humanidade chocam. E ficamos esperando a famosa frase "Mas VOCÊ?!". Então fugimos. Pra qualquer lugar seguro em que podemos ser nós mesmos, nus e pequenos, mais uns comuns; qualquer lugar em que se tolere erros.
Eu já tive esconderijos os mais diversos. Por alguns anos, meus melhores amigos foram um refúgio. Podia xingar, chorar, falar as coisas mais absurdas e cogitar loucuras; eles sabiam que não passava de meu cansaço falando por si. E ríamos dessas bobagens depois. Outras vezes, numa época mais solitária, foi o próprio Deus e meu violão. E que bom que Ele não é o fantoche que alguns acreditam: já pensou Deus fazendo as minhas "vontades iradas e insanas"? Nem eu estaria aqui para escrever isso! Meus livros, meus sonhos: todos já foram refúgios.
Hoje não: cresci, afinal. Hoje tenho lugares. Lugares só meus, pra onde corro apenas para deixar-me ficar só. Só comigo sendo eu sem a "eu" costumeira. Só para pensar o que quiser, desejar o que quiser, chorar o que quiser, gritar o que quiser... sem consequências (claro, continuo sendo uma "mais velha", não deixaria rastros). E em meus refúgios sempre há três elementos: tempo, espaço e espelhos. Os três para apenas um objetivo: poder encontrar-me comigo. Poder ser apenas eu, sem expectativas ou responsabilidades; sem papéis tomados ou consequências.
Então gostaria de não ter essa responsabilidade mas agora é tarde, mas tenho meus lugares de refúgio, meus cantos.. mas sempre acabo nos braços do Pai meu melhor amigo. Canso (de cansar mesmo) da frase:"Mas vc? Poxa vc é a esposa do Pr. Dá mais trabalho explicar, que td é tão comum e normal, prefiro ir para o meu refugio.Ficar lá quieta pegar meus cadernos que transformei em diários e escrever até os dedos se cansarem ( coisa que acontece muito rápido)talvez nem tanto por ser a mais velha. Hoje estava pensando exatamente isso: Como as pessoas nos veem: Poxa vc engordou, vc esta com rugas vc.. vc.. Como se isso não fosse comum acontecer comigo. Eu engordo sim, tenho rugas, cabelos brancos( poucos) e surto tbém... ah sim eu surto .... choro, lamento afinal sou humana.. é isso Li. beijos texto sensacional
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