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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Cores de um enxoval

Um dia desses me perguntaram qual é a minha cor preferida. Para quê? Para um presente, oras! Não soube responder. Ah, qual é, você deve ter uma cor preferida! Disse que não. Menti. Claro que tenho... É que é meio difícil de explicar...

São várias as cores que gosto. Adoro cor de chocolate quente feito pela mãe em dia de frio. Ou de chocolate dado pelo namorado, comprado na padaria da esquina. Enfim, gosto de chocolate, quem não gosta? Doce, derrete na boca, vai embora devagarinho e sempre deixa uma sensação de "poderia durar mais".

Na verdade, gosto de tudo que poderia durar mais. E gosto de azul. O azul de um céu limpo, de um dia de praia. O azul da piscina gelada e rasa dos fundos da casa da vó onde encontrava primos, brinquedos e fantasias. O azul do uniforme da escola preferida.

Também gosto de verde escuro. De todos os campinhos que joguei bola, de todos os gramados que sentei pra contar piada, estrelas, beijos... Dos cochilos em gramas macias, de cheiro de grama molhada de chuva de verão e de lágrimas derramadas escondido.

Adoro o branco! Das gotas da chuva, da espuma da cachoeira, de névoa que sai de nossa boca no frio. Gosto da clareza do branco, da clareza de ideias e de valores. Da frescura e da limpeza do branco. Gosto de algodão e de nuvens, e passando por uma em queda livre pude jurar que são a mesma coisa! Gosto do branco dos dentes, principalmente se aparecem emoldurados num sorriso doce ou numa risada boa.

Acreditem, gosto do preto. Da noite estrelada, do silêncio. Da sensação de refúgio e de nostalgia da penumbra. Do mistério. Gosto de um cantinho escuro que não me deixe ver nada além de meus pensamentos.

Gosto muito, muito de vermelho. Como maçã, como rosas e como sangue. Cor ambígua, não? Intensa, cheira à vida e à morte, cheira a amor e à paixão, cheira a paraíso e perdição. O vermelho me faz lembrar que as grandes potências da vida podem levar aos céus ou ao inferno, depende de como as utiliza. Pode ser profundamente bela e gratificante, também perigosa e mortal. Intensa e quente.

Oras, Elisa, é simples: escolha uma delas! Não dá, gente... Porque as cores que gosto de verdade não existem! Vou explicar...

Gosto da cor lilás do abraço. Um abraço é mágico e tem o poder, um gesto tão simples, de acalentar e suprir as mais profundas necessidades psíquicas do ser humano. Ser acolhido, ser protegido, ser respeitado, ser desejado, ser amparado... Está tudo ali, num simples abraço! E gosto da cor bege do colo. Aliás, bege e lilás ficam lindos juntos!

Gosto da cor metálica da amizade, sólida como titânio. Pode ser marcada com o tempo, pode sofrer mutações mas pra quebrar... E com o tempo, polida e moldada, vira cumplicidade e brilha. Nada como uma prataria lustrada e brilhante!

Também gosto do amarelo quente de um dia de sol radiante. De manhãs radiantes, de sorrisos radiantes, de olhares radiantes. Mas no geral, o amarelo cai bem no dourado que ando carregando na mão...

Mas a preferida, sem sombras de dúvida, é o verde-mel-castanho. Essa cor, se eu pudesse, encheria o planeta inteiro com ela! Porque é o começo e o motivo de tudo. E é tão única que adora ser furta-cor: muda conforme a luz do dia, a intensidade do sentimento e a frequência cardíaca. Muda conforme o humor e a umidade do lugar. Muda conforme o brilho do sorriso e conforme a intensidade da saudade. Ela é tão especial e rara que quando a descobri no planeta pensei: "Feliz quem puder desfrutar dela pra sempre!" Pois é, morram de inveja...

Mas Elisa, afinal, qual é a cor do seu enxoval? Bom, tem de tudo um pouco. De esperança, de gratidão, de molecagem. Tem um pouco de vermelho, rosa, lilás, azul, branco, preto, cinza, amarelo, verde... Tem um tanto de história, de milagres (os grandes e os pequenos). Tem um pouco de erros, de crescimento, de ansiedade, de lágrimas. É mais plural que o arco-íris, garanto! Então tanto faz: escolha a cor que quiser para o presente. A única cor que faço questão de ter eu já tenho: a do brilho apaixonado dos olhos do homem que amo. As demais, são todas bem vindas, sem preconceitos!



domingo, 3 de fevereiro de 2013

Faz-me lembrar

Ansiedade é o desejo ardente pelo futuro, que faz o presente insuficiente.

De repente tudo fica suspenso. A concentração nas coisas triviais e cotidianas some. O coração acelera e uma descarga de energia flui em nosso corpo deixando-nos alertas. Apreensivos, ficamos como quem espera em uma emboscada: o tempo não passa.

Nossa cabeça presentifica o futuro ao ponto de quase sermos capazes de tocá-lo. E essa presença fantasma chamada antecipação tira qualquer pessoa do sério, principalmente se ela for do sexo feminino. Sim, somos ansiosas por natureza. Exatamente pela capacidade de prever, de antever, de viver previamente. Nosso trunfo e nossa angústia.

Então contamos os segundos, e como eles passam no ritmo de sempre, arranjamos o que fazer para nos esquecermos da contagem. Ler, dormir, correr, ver filmes, escrever... Qualquer coisa vale. Desde que garanta a sensação de que o tempo passará mais rápido.

"Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; lançando sobre ele a vossa ansiedade porque ele tem cuidado de vós." 1 Pedro 5. 6,7.

Como ter a paz de volta? Como sorrir pela manhã, feliz por cada dia? Como canalizar as energias e esperanças para o agora?

PRIMEIRO: "ele tem cuidado de vós". Não apenas lembrar que o futuro ao Senhor pertence e que Ele fará o melhor. Não: a chave parece ser desfrutar HOJE do cuidado de Deus, buscar enxergar a mão Dele agora, canalizar a expectativa para Seu agir presente. O que Deus fará hoje? Como posso ver Seu agir hoje? Como posso ver Seu cuidado hoje? O que Ele tem feito até hoje?

SEGUNDO: "lançando sobre ele toda a vossa ansiedade." Não apenas entregar em oração ao Senhor o motivo por que nosso coração se aperta no peito. Não: responsabilizá-lO. Lançar sobre Ele é fazê-lO responsável pelo que sentimos, pelo peso de nossas expectativas. Se é Ele quem opera tanto o querer como o realizar (Filipenses 2: 13-15), o querer é Dele, o realizar é Dele. É Dele a responsabilidade por nos permitir sonhar, e é Ele que possibilitará ou não tais sonhos. Logo, a responsabilidade de fazer as coisas darem certo é exclusivamente Dele, cabendo a nós apenas o sonho e a obediência dependente.

TERCEIRO: "humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte". Gostamos de ter o controle. Gostamos de acreditar que somos seres pró-ativos, que fazemos acontecer. Gostamos de nos sentir úteis e atuantes. E quando diz respeito a nossos planos, queremos interferir no processo para termos, no fundo, a sensação do "eu fiz". Somos seres criativos e ativos, e quando o que está em jogo são nossos sonhos a motivação fica gigantesca. Ao ficar de mãos atadas nos sentimentos menores, incapazes de agir e interferir no rumo de nossas vidas. Sentimo-nos humilhados por nossa própria humanidade e pequenez.

É neste exato momento que o Todo Poderoso coloca as coisas em seus devidos lugares, inclusive nós mesmos. É nesta hora que nos faz lembrar que não somos capazes de apressar o tempo, de mudar as estações, de dar a nós mesmos mais um dia de vida ou um centímetro a mais de altura. Não somos Deus, afinal. E apesar de sermos capazes de muita coisa, nossas mãos não são tão potentes assim.

Ou nos debatemos em nossa bolha de limitações ou nos humilhamos admitindo que, no fim, as coisas serão no tempo de Deus e na forma de Deus. Ponto. Ao chegar a tal conclusão temos duas alternativas: continuamos sofrendo como moscas que se queimam na lâmpada, ou nos submetemos ao tempo e ao tratamento divinos na esperança de que um dia Ele nos exalte. Quando aprendermos a sorrir todos os dias, a descansar Nele todos os segundos, a ansiar por Seu agir HOJE, de repente nossos sonhos estarão aqui: no presente e palpáveis.

Ansiedade é o desejo ardente pelo futuro, que faz o presente insuficiente.

Dependência é a esperança certa do futuro, que faz o presente abundante.