Não tinha visto a foto ainda. Outro dia, fuçando na novidade tecnológica que até TV tinha, topei com seu álbum de fotos e resolvi espiar. Foi então o susto.
O sorriso daquela mulher me intrigou profundamente. Era bela, jovem, radiante. Senti inveja e espanto. Quem era?
Fiquei encantada com uma foto de mim mesma, mas não me reconhecí. Eu não sou bela assim. E nunca fui tão auto confiante, tão superior, tão plena. E lembro-me bem de que aquela noite foi atípica. Foi a primeira vez que trajei um vestido fino por iniciativa própria, sem obrigação da ocasião ou imposição dos pais. Creio que foi a primeira vez na vida que me arrumei por gosto, sem me sentir um extra terrestre ou presa numa camisa de força; pelo simples prazer de gostar da própria imagem no espelho. Também foi a primeira vez que me arrumei consciente de que um par de olhos me acompanharia constantemente, a noite toda.
E me senti natural, belamente natural. Como se tivesse alguma lógica em comemorar a própria existência, em agradecer os cumprimentos dos demais me congratulando por existir. Mas há algum mérito! Afinal, eu existia ao longo de 23 anos, sobrevivia. Não apenas corporeamente, mas resisti às crises juvenis, ao desconexo das imagens que tinha de mim, aos foras dos meninos, às brigas de ciúmes das amigas, às brigas ferozes com o espelho.
Não somente mendigava louvor à capacidade de estar viva, mas existia, talvez pela primeira vez, plenamente. Era inteligente, e ingressar na faculdade me provara isso. Era confiável, meus pais não tinham do que reclamar. Eu tinha o direito de gostar de coisas que nem todo mundo gosta, e isso não me diminuiria. Quem diria, eu não era nem cópia da minha mãe, nem do meu pai, nem de tia alguma. Era simplesmente eu.
E aquele par de olhos era meu trunfo, meu atestado de independência, de identidade, a medalha que comprovava que tinha vencido minhas próprias expectativas. Sim, eu existia triunfalmente. Porque um par de olhos tão dignos ou mais que eu mesma, tão complexos e intrigantes, tão caros quantos os meus, tanto vitoriosos na luta em ser alguém quanto; esse par de olhos me olhava, perscrutava, como se pudesse prender a imagem que vivia diante de si, como se pudesse eternizar a visão. Esses olhos me amavam, profundamente.
Talvez, por isso o brilho que irradiava do meu ser. Não aquele romantismo bobo, o suspiro juvenil. Mas a certeza de que sobrevivi, de que me tornei não só alguém pontual no mundo, com seus ideiais e princípios, suas crises superadas, suas faltas incorporadas, mas também alguém capaz de encantar, de espelhar um outro. Me tornei capaz de ser amada profundamente.
E toda essa certeza, que sempre me escapou e que vacila tanto, naquela noite foi potencializada. Ali me senti tão mulher, e tive tanto orgulho disso que, dias depois, ao olhar aquela foto, não soube dizer de quem era aquele perfil. Assim como o espetáculo da morte de uma estrela, aquela foto era prova cabal de que, por uma noite, apenas uma noite, querido Rosa, cheguei a existir!
Tive inveja da foto e do que ela representava. Assustei-me ao reconhecer, em meio a essa vida - às vezes sem vida, sem lógica, confusa, difusa- enebriantemente maravilhosa e rica de sentido, que um dia, uma noite eu fui a mulher que sonhava ser. E resolvi, depois de muito pensar, não permitir que os olhos que me amam a vissem. Seria a quebra de um encanto, a desilusão frequente daquilo que existiu pontualmente. Não insiramos essa mulher no tempo-espaço, amigo! Deixemos-na existir eternamente na memória! Talvez um dia eu a encontre brilhando em outra foto.
Lisa... sempre qdo t vejo, vejo sim.... uma linda mulher, e admiro, pois é uma pessoa com princípios ... e sabe o q quer!Muitas vezes fazemos coisas não pq gostamos, e sim para agradar "pessoas" ... e msm sendo dessa forma, vejo q vc faz com muito amor e dedicação!... e o espelho sempre será nosso melhor amigo, desde q vc esteja satisfeita com a pessoa q vê por dentro "alma" ... t admiro muitoão!
ResponderExcluirBeijos d sua cunhada Lê e sobrinha Nandinha.
Oi Li!!!
ResponderExcluirAchei legal o seu blog e aproveito para pedir que entre no meu: filhodeapolo.blogspot.com
É um blog sobre mitologia grega;acho que vc vai gostar!!!
Bjos!!