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terça-feira, 24 de abril de 2012

Bons tempos

 Estar só. O silêncio inunda tudo na madrugada, e ficam os pensamentos. Quando não se tem nada a fazer a não ser esperar o tempo passar é quando tudo vem à tona. É quando paro pra pensar na vida, em decisões, em caminhos traçados.

Às vezes, deitar e ouvir o silêncio faz bem. Às vezes, acordar só em casa e ter o dia inteiro só pra mim faz muito bem. Mas só às vezes.

No geral, ficamos com vontade de fugir do silêncio e de nossa voz interior. Ficamos com vontade de preencher o tempo para não pensar. Ler alguma coisa, assistir alguma coisa, jogar videogame, fazer alguma coisa, qualquer coisa, nem que seja dormir. Tudo para não ouvir o silêncio delatador de nossos medos, de nossos fantasmas.

Mas uma hora é preciso estar só. Uma hora é preciso repensar tudo. E talvez não se ache sentido algum em nada. Talvez, não se encontre todas as respostas. Talvez.

A questão é que o grande trunfo do silêncio e do ócio, não o ócio grego produtivo-filosófico; esse ócio nosso mesmo, de não fazer nada; o seu grande trunfo é dar voz aos silêncios que calamos na correria do dia dia de um dia corrido. Quando temos hora marcada, e horário para tudo, não temos tempo de ficar à toa, nem de refletir, nem de pensar, nem de sentir falta, nem de se reavaliar, nem de chorar, nem de rir só, nem de tomar um banho demorado, de dormir até tarde e ficar acordado até tarde; normalmente não temos tempo para nada. E quando ficamos assim, no nada do vazio da agenda, a primeira reação é inventar algo para escrever ali. Qualquer coisa, qualquer projeto mirabolante que preencha nosso tempo.

Mas isso passa. E quando passa, ficamos só, nós e o silêncio. É a hora que as dívidas são colocadas à mesa: seu corpo pede descanso, sua mente pede descanso, sua vida pede organização. E dependendo do caso, fazer uma faxina interna demora....

Pior é quando se quer permanecer à toa mas acompanhado. E onde arranjar companhia para não se fazer nada se você é a única pessoa à toa no mundo? As pessoas estão ou trabalhando ou cansadas de tanto trabalhar/estudar/viver que a última coisa que querem é ficar à toa com você. Faz parte... faria o mesmo no lugar delas.

Os dias passam, o relógio corre, você se pergunta: eu deveria fazer alguma coisa? Há alguma coisa que eu deveria fazer? Silêncio. O irritante silêncio, nessas horas, como que a zombar de sua pequenez, não responde nada. Será que é o período do ano, não deve ser época para contratações... Será que sou tão ruim assim? Será que escolhi o curso mais inútil dos possíveis? Será que sirvo pra servir? Será que não deveria me acostumar a ficar em casa não fazendo nada? Será que não deveria fazer alguma coisa pra ter o que fazer? Será que... Tentativas de encontrar sentido no vazio.

Silêncio. Estar só. As pessoas não querem que você pense que é inútil, principalmente as que te amam. Não querem ver você acordar tarde e dormir tarde por não ter nada pra fazer. Não querem ver você desanimada com a vida. Claro que não! Mas faz parte...

Lembro-me de ter me sentido assim tantas vezes. E de repente, tudo mudava e me perguntava: por que tinha a sensação que estava demorando? Passou tão rápido! É, quando saímos da calmaria e nos deparamos com tempestades, ondas gigantes e desafios ficamos com vontade de pedir "podia parar de chover...". Mas na calmaria nos sentimos tão entendiados que olhamos ansiosamente para os céus querendo ver uma nuvenzinha sequer...

Portanto, como cada dia é um dia, e todos eles fazem parte de um caminho a ser trilhado, fiquemos só, apenas eu e você, silêncio. Vamos dormir à vontade e não fazer nada; vamos sonhar, chorar, sorrir, lembrar, nos questionar, nos frustrar até que meu coração se canse de perder a paciência e, finalmente, se aquiete. Tenho certeza que, lei de Murphy, quando eu curtir ficar à toa vão me dar um monte de coisas pra fazer; então vou me lembrar de hoje e dizer "bons tempos...".

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A melhor na matéria

"Não adianta fazer birra, senta aqui porque você vai aprender isso!"

Ouvi isso algumas vezes de meus pais. Sabe quando você quer deixar pra lá a lição da escola porque ela te exige mais que seus limites? Aí fica difícil, você não quer pensar, você não quer encarar, você culpa a professora de chata, a matéria de inútil, enrola, pede para o melhor amigo fazer sua lição e continua a vida sem ela? Até que numa fase, em algum dia, você se vê obrigado a saber aquele conteúdo para poder progredir. Afinal, são matérias com "pré-requisitos": precisa saber uma coisa para aprender outra; precisa saber uma coisa para conquistar outra.

Então você se lembra que enrolou, chorou, implorou mas no fim ouviu a citada frase dos pais, quando furiosos com suas notas baixas sentou na mesa com você e fez você fazer tantos exercícios que acabou sendo o melhor naquela matéria?

Pois é... se pais humanos fazem isso com seus filhos porque os amam, nem queira saber o que o Pai celestial é capaz de fazer!

Exatamente: ele vai deixar sua vida dar voltas e voltas, mas vai chegar uma hora que para passar à fase seguinte, para conquistar algo, para crescer você vai sentir falta da lição ignorada. E é aí que Ele também vai fazer você sentar e também vai dizer a mesma "dita cuja" frase!

E nessas horas você tem duas escolhas: ou chora e perde tempo, ou abaixa a cabeça, deixa Ele te ensinar, passa de fase logo e vai brincar na rua no fim da tarde. A opção de quanto tempo perdemos com lições difíceis é toda nossa.

Doi, concordo. Eu sei. Tenho passado pela fase "senta aí". Mas sinceramente? Enfrentar este "chá de cadeira" é menos assustador do que não crescer nunca, do que perder tempo.

Então vamos lá: não saio daqui até ser a melhor nesta matéria da vida! E você?