Estar só. O silêncio inunda tudo na madrugada, e ficam os pensamentos. Quando não se tem nada a fazer a não ser esperar o tempo passar é quando tudo vem à tona. É quando paro pra pensar na vida, em decisões, em caminhos traçados.
Às vezes, deitar e ouvir o silêncio faz bem. Às vezes, acordar só em casa e ter o dia inteiro só pra mim faz muito bem. Mas só às vezes.
No geral, ficamos com vontade de fugir do silêncio e de nossa voz interior. Ficamos com vontade de preencher o tempo para não pensar. Ler alguma coisa, assistir alguma coisa, jogar videogame, fazer alguma coisa, qualquer coisa, nem que seja dormir. Tudo para não ouvir o silêncio delatador de nossos medos, de nossos fantasmas.
Mas uma hora é preciso estar só. Uma hora é preciso repensar tudo. E talvez não se ache sentido algum em nada. Talvez, não se encontre todas as respostas. Talvez.
A questão é que o grande trunfo do silêncio e do ócio, não o ócio grego produtivo-filosófico; esse ócio nosso mesmo, de não fazer nada; o seu grande trunfo é dar voz aos silêncios que calamos na correria do dia dia de um dia corrido. Quando temos hora marcada, e horário para tudo, não temos tempo de ficar à toa, nem de refletir, nem de pensar, nem de sentir falta, nem de se reavaliar, nem de chorar, nem de rir só, nem de tomar um banho demorado, de dormir até tarde e ficar acordado até tarde; normalmente não temos tempo para nada. E quando ficamos assim, no nada do vazio da agenda, a primeira reação é inventar algo para escrever ali. Qualquer coisa, qualquer projeto mirabolante que preencha nosso tempo.
Mas isso passa. E quando passa, ficamos só, nós e o silêncio. É a hora que as dívidas são colocadas à mesa: seu corpo pede descanso, sua mente pede descanso, sua vida pede organização. E dependendo do caso, fazer uma faxina interna demora....
Pior é quando se quer permanecer à toa mas acompanhado. E onde arranjar companhia para não se fazer nada se você é a única pessoa à toa no mundo? As pessoas estão ou trabalhando ou cansadas de tanto trabalhar/estudar/viver que a última coisa que querem é ficar à toa com você. Faz parte... faria o mesmo no lugar delas.
Os dias passam, o relógio corre, você se pergunta: eu deveria fazer alguma coisa? Há alguma coisa que eu deveria fazer? Silêncio. O irritante silêncio, nessas horas, como que a zombar de sua pequenez, não responde nada. Será que é o período do ano, não deve ser época para contratações... Será que sou tão ruim assim? Será que escolhi o curso mais inútil dos possíveis? Será que sirvo pra servir? Será que não deveria me acostumar a ficar em casa não fazendo nada? Será que não deveria fazer alguma coisa pra ter o que fazer? Será que... Tentativas de encontrar sentido no vazio.
Silêncio. Estar só. As pessoas não querem que você pense que é inútil, principalmente as que te amam. Não querem ver você acordar tarde e dormir tarde por não ter nada pra fazer. Não querem ver você desanimada com a vida. Claro que não! Mas faz parte...
Lembro-me de ter me sentido assim tantas vezes. E de repente, tudo mudava e me perguntava: por que tinha a sensação que estava demorando? Passou tão rápido! É, quando saímos da calmaria e nos deparamos com tempestades, ondas gigantes e desafios ficamos com vontade de pedir "podia parar de chover...". Mas na calmaria nos sentimos tão entendiados que olhamos ansiosamente para os céus querendo ver uma nuvenzinha sequer...
Portanto, como cada dia é um dia, e todos eles fazem parte de um caminho a ser trilhado, fiquemos só, apenas eu e você, silêncio. Vamos dormir à vontade e não fazer nada; vamos sonhar, chorar, sorrir, lembrar, nos questionar, nos frustrar até que meu coração se canse de perder a paciência e, finalmente, se aquiete. Tenho certeza que, lei de Murphy, quando eu curtir ficar à toa vão me dar um monte de coisas pra fazer; então vou me lembrar de hoje e dizer "bons tempos...".
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