
Dois troncos de madeira sobrepostos em ângulo de 90°. Uns dois metros de corda grossa. 3 grandes pregos. Um buraco no chão.
Simples assim, e está montado o palco da pior tortura de todas as inventadas pelo homem. A pior morte, dada aos piores indivíduos da sociedade. Assassinos; traidores; sociopatas; pedófilos; ladrões; hereges. A escória é posta no alto sob vergonha, nua e dolorida, para que se zombe dela, e para servir de exemplo.
Roma. O maior império de todos os tempos. Principalmente pelo legado que deixou à humanidade, até os dias de hoje. A cultura, a política, a ciência, a estratégia: herdamos tudo. Seus líderes expuseram no madeiro milhares ao longo da história. Era prática comum e corriqueira. Cruel, suja e familiar. Espetáculo de horrores que servia a seu propósito: demonstrar força. "Isso é o que se faz aos opositores do império". Estavam lá, vira-e-mexe, cheias de corpos estendidos. Nomes apagados.
Não sabemos de suas histórias. Se eram, mesmo, dignos de morte, ou apenas tiveram o azar de serem as pessoas erradas na hora errada. Em Ben Hur vemos uma cena de crucificação coletiva. Mas não sabemos seus nomes, e em nada suas mortes influenciam nossas vidas, a não ser pela nota de história no colégio.
Não todas.
"Abafem a história". Não está escrito exatamente isso, mas poderia estar. Para os governantes que crucificaram o agitador nazareno, popular e pobre, era essa a intenção. "Abafem a história, matem seus seguidores fanáticos, que daqui a alguns anos ele será só mais um numa cruz, e eles, só mais um bando fanáticos".
Pois é, não deu. Ao tentar apagar o fogo, Roma ofereceu o ingrediente que faltava para que se alastrasse para todos os lados, em todas as direções do território e do tempo. E como diz o ditado "Se não puder contra seus inimigos, junte-se a eles."...
Dois troncos de madeira sobrepostos em ângulo de 90°. Uns dois metros de corda grossa. 3 grandes pregos. Um buraco no chão. Simples assim.
E por que, afinal de contas, aquele judeu foi diferente de todos os outros? Por que aquela cruz foi diferente de todas as outras, a ponto de virar símbolo de fé e de vida de milhões e milhões de pessoas?
Bom, porque aquele era um judeu ousado. A ele não bastou morrer: tinha que se proclamar Deus! E pior, tinha que sair dessa vivo! "Isso é o que dizem... Mas provar...". Tem razão. Tudo é uma questão de "veja bem...".
A questão é que, se aquele homem era Deus, seus carrascos e contemporâneos presenciaram algo indizível e inconcebível ao pior dos loucos: um deus que desce à terra e se deixa morrer por amor. Estavam diante de Deus sendo morto por sua criação, para que essa mesma criação vivesse, apesar de não merecer. É uma mudança tão drástica de pressupostos, e do que a humanidade conhecia por verdade, tão absurdo, que choca.
Choca tanto que impõe uma escolha: ou creia no absurdo, ou decida negá-lo com todas as forças. Não há meio termo. Não há saída. Deus não deixou brecha. Quando foi para ser radical, Ele caprichou. Não temos para onde ir: ou caímos de joelhos em prantos boquiabertos, ou zombamos virando as costas. Não dá para ser neutro, é impactante demais.
"Está consumado."
Simples assim.
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