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sábado, 12 de novembro de 2011

Só: pronomes possessivos

Estava tudo bem. O andar firme, o caminho claro e plano, ideias no lugar. O desejo de estar só.

Sim, porque estar só sempre foi meu alvo. Estar só comigo, curtir as pequenas mazelas de meu mundo só meu. Procurava ansiosamente ficar só.

Porque só estando só, eu era quem era. Não me escondia de ninguém, não fugia de ninguém, não me preocupava com ninguém, ninguém me atingia. Não me machucava com ninguém.

Antes, na correria normal do dia a dia, eu buscava brechas para estar só. Queria um tempo e um espaço para me refugiar no violão, no sono, em algum passatempo, nas músicas, nos livros. Queria um lugar meu, e só meu.

E sempre acreditei piamente que, quando conquistasse o direito de ter um universo pessoal e exclusivo, intocado e íntimo; quando construisse um mundo só pra mim, aí sim, eu seria completa e feliz.

Mas de repente me vejo só. Com todo o tempo e todo o espaço só meus, na maior parte do tempo. Posso ser quem eu quiser e quando eu quiser. O silêncio, por tantas vezes procurado, o tenho sempre.

Mas tudo mudou...

O que foi que você fez?

Quando estou só, tudo está igual. Meu violão está aqui, meus livros, meus pensamentos, meus sonhos. Sim, eu tenho o meu mundo.

Mas pela primeira vez na vida não estou mais confortável nele. Por ironia, agora que tenho um mundo só meu, agora que construí minha intimidade e identidade; agora que sei quem sou, o que quero, o que faço e o que não faço, agora me sinto insuportavelmente só.

E por quê?

Porque ilogicamente, de repente, não quero ser a única pessoa que vive no meu mundo. O tempo que eu gastaria, anos atrás, comigo mesma, agora escorre enquanto procuro você.

Sim, porque você está em todos os lugares. No meu violão, na minha bíblia, nos meus livros, nas músicas, no barulho e no silêncio. Principalmente porque está em mim.

Todas as minhas ultimas escolhas, desde o que colocar no guarda roupa a "o que vou fazer quando crescer". O seu sorriso está por toda a parte, principalmente nos meus lábios. A minha imagem no espelho não me reflete mais. Reflete sim, a pessoa que me tornei por sua causa.

Mas se fosse só isso, tudo bem. Porque muitas pessoas já passaram por minha história e carrego pedacinhos delas até hoje. O problema não é esse.

O problema é que não sou mais capaz de ter prazer estando só. Pior ... não quero mais estar só. O que antes para mim era meu refúgio, hoje só me causa um aperto no peito. Sim, ainda gosto do meu mundo, sou introspectiva e sempre serei. A diferença é que tenho uma necessidade inexplicável e incontrolável, irritante até, de que você esteja nele.

O que foi que você fez?...

Sempre quis ter um mundo só meu.
Agora que tenho, não quero que seja meu.
Quero que seja nosso.

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