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domingo, 30 de setembro de 2012

Ele me ama!

Paródia de Lucas 7. 36-50


Estava decidido: eu iria de qualquer jeito. Num ímpeto, tomei a decisão mais importante de minha vida.
Levantei-me com o rosto quente, lágrimas escorriam em meu rosto enquanto eu revirava meus pertences a procura de meu bem mais valioso.

Ganhara aquele perfume como pagamento de meu trabalho ilícito: fingir o amor. Homens, de todas as idades, e de todas as classes, me procuravam. Alguns para saciar apenas a fome do corpo. Mas a maioria em busca de saciar a sede do coração. Homens que precisavam de prazer para fugir dos problemas, de sua impotência em ser quem gostariam de ser. Homens que precisavam esbanjar o dinheiro que tinham de sobra para se afirmarem. Homens que precisavam amontoar números de mulheres para se afirmarem. Outros sozinhos, doentes por dentro, buscavam em meus braços um refúgio, a volúpia que calaria os gritos sufocantes de seus corações feridos pela dor, pela carência, pela necessidade de serem amados, de fato. Precisavam de prazer, e de amor, mesmo que fingido. E eu o fingia a todos.

Quanto a mim, com o tempo, o vazio aumentou. Como dar aquilo que não se tem? Como saciar a sede se sou poço seco? E cada vez que recebia um presente caro pelos carinhos e carícias prestadas a ferida crescia. Porque depois, quem lidava com o desprezo, com o estigma de mulher menor e desprezível, era eu. Homens que estiveram em meus braços não podiam me honrar publicamente, tão pouco me sustentar, me dar nome e dignidade. Não podiam me perdoar a ponto de me elevar a eles. Eu, que fingia o amor que precisavam, não era amada, tão pouco tolerada.

Mas aquele homem era diferente. Ele não me olhou com desprezo ou nojo, nem vergonha. Poderia até ser minha carência fazendo-me ver o que não existia, mas toda vez que encontrava com este homem nas ruas era capaz de ver em seus olhos um brilho morno e aconchegante. Não era lascivo, esse olhar eu conhecia de longe. Tão pouco era apaixonado. Era os olhos de alguém que parecia me ver, pareciam sorrir para mim.

Por muitas vezes fugi desse olhar, mas depois de tudo o que ele fez, depois de alimentar pobres, dar ouvidos a humildes e enfrentar os homens importantes da cidade e sua hipocrisia, depois de ouvir de seus atos e sua fama eu tive a certeza de que aquele homem era ungido. Era um homem de Deus, no mínimo, mas diferentemente dos demais não me olhou com olhos repreensivos. Aquele homem de Deus não me odiava.

E essa certeza, a de que um profeta não me escorraçaria, foi o suficiente para trazer a coragem e a gratidão ao meu coração. Darei a ele o perfume mais caro, o servirei, pedirei sua misericórdia.

Pensava em tudo isso parada à porta da casa. Lá dentro, o homem que me tinha olhado com ternura e compaixão comia à mesa de um fariseu. Ele comia com fariseus e com beberrões... Ele curava feridas de leprosos, abraçava mendigos, curava cegos e moribundos. Aquele homem tinha algo que eu jamais conhecera até então: amor. Amor gratuito e sincero, despretensioso e sem preconceitos. Veja o que fez com Madalena? Poderia tê-la apedrejado, mas a perdoou. Veja o que fez com o publicano...

Enquanto pensava, vi pessoas ao seu redor. Alguns cochichavam, outros riam de suas afirmações. Alguns o olhavam com desprezo, outros com fascínio. Alguns o serviam, outros queriam ser servidos por ele. Alguns seriam capaz de o matar. Eu seria capaz de beijá-lo, se pudesse! Tantos foram os beijos falsos, e juras vazias! Mas este homem...

Algo estava acontecendo. A culpa de meus erros caiu sobre mim com um peso que jamais sentira antes. Por tantos anos dei desculpas a mim mesma dizendo que não poderia ser julgada, afinal a vida fora dura comigo, e essa era a opção que me restara. Não, era desculpa. Eu era culpada, e sabia disso! Culpada de pecados inomináveis! Um filme passou por minha cabeça, e senti nojo de mim. Era suja, e emporcalhava homens e suas famílias. Meu dinheiro era sujo, minha vida era suja, cheia de um amor falso e sujo. Muito mais sujo que seus pés...

Sentado à mesa, à moda dos judeus, seus pés ficavam em minha direção. Era um homem simples, com certeza caminhou para chegar ali, e suas sandálias traziam a poeira da rua. Um homem como ele não poderia sentar-se à mesa sujo daquela maneira! Um profeta honrado deveria, pelo menos, ter quem lhe lavasse os pés!

Não possuo a lembrança de meus movimentos. Só sei que me vi sentada a seus pés, limpando-os com o perfume caro que havia trazido para presenteá-lo. Um homem honrado... Foi quando percebi que ele não se movera. Ao contrário de qualquer outro em seu lugar, não me impediu de tocá-lo, tão pouco fazia pouco caso de mim. Deixou-me limpar seus pés como se eu fosse digna disso!

O turbilhão explodiu. Não conseguia conter as lágrimas. Eu, uma indigna, uma pária, uma pecadora, podia tocar e beijar os pés daquele homem que a tantos transformou, que tantos sinais e milagres deu a conhecer, que possuía tamanha notoriedade. Não era capaz de conter os soluços. Meus cabelos, tão bem cuidados para que pudessem atrair, agora limpavam e secavam os pés do homem mais incrível e divino que vira na vida. E fazia isso sem cogitar pagamento.

"Seus pecados estão perdoados!" Ao ouvir sua voz, levantei a cabeça e encontrei-me com seu olhar. Ele sorria para mim, e seu rosto brilhava como o sol. Amor jorrava de suas palavras, e naquele instante uma paz desconhecida inundou meu peito, sem explicação. Naquele momento, sem muita lógica, eu soube:

Ele me ama!



quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Palavras de um silêncio

Palavras. A tentativa de comunicar. Às vezes basta, às vezes não. Elas me fogem, e só o fato de ficar assim, muda, é tão clichê que me irrita. Não por me sentir molestada em me ver sendo clichê; me irrita mais por ter de admitir essa verdade e não transpô-la, por me ver limitada por limites há muito tempo estabelecidos.

Como transmitir a certeza, a paz, o contentamento, a completude, a gratidão? Como descrever as sensações, as cores, os cheiros? Como mensurar e explicar o que passa por minha cabeça nos segundos em que mergulho em seus olhos?

Clichê? O maior deles! Tão humano, tão velho e tão novo. Ao mesmo tempo avassalador e comedido; ao mesmo tempo público e privado; ao mesmo tempo minúsculo e gigantesco; ao mesmo tempo sensorial e racional; ao mesmo tempo dois; duo, dual. Único. Sinestésico e vivo. Real, tão real quanto as almas, os ânimos, os pensamentos, as sensações são: invisíveis, universais, parte de nós, indefiníveis; reais. Tão reais que tornam-se clichês e banais.

Carinho, ternura, paixão, amizade, cumplicidade, sonho, sorriso, dor, canto; a sinestesia de viver: respirar, e pulsar, e suar, e estremecer, e sentir, e tocar, e chorar, tudo isso ao mesmo tempo.

E quando a serenidade do cotidiano toma conta, quando a calmaria se instaura na ausência e nas reminiscências, sobra a brisa nostálgica da sensação de vida que a tempestade trouxera. Nos esquecemos do poder assombroso que tem a vida e suas nuances, por nos ser tão familiar e banais, que quando se manifesta a ponto de nos tirar da rota, do eixo, lembramo-nos do quanto é bela e vital, do quanto precisamos delas para não apenas sobreviver, mas viver em plenitude. É quando a sensibilidade, aguçada, vê beleza em misérias: uma flor, um raio de sol, uma formiga, uma sensação do vento frio, uma batida de coração, um fôlego. Milagres.

Como transmitir em verso, prosa ou canção a vida pulsante e pungente encontrada em todos os caminhos, brilhante em todos os olhos, principalmente nums olhos? Quando uma cor de pupila, um desenho de mãos, um timbre de voz se tornam fortaleza, refúgio, espelho, berço, lima e pólvora? Vida. Sentir-se vivo, respirando profundamente, sorrindo profundamente, sonhando honestamente, esperando ansiosamente por viver uma propulsão milagrosa de vida, um discurso calado, íntimo, poderoso, mas tão trivial e cotidiano, tão pequeno e pontual, que passa despercebido a todos o seu grau de beleza e magnitude.

 O mar calmo esconde uma força que todos sabemos existir, mas não nos preocupamos com ela; uma vida que todos sabemos existir, mas não a valorizamos; esconde verdades clichês, belezas desconhecidas e milagres costumeiros. Só um cego sabe da beleza da luz; um náufrago, a força da onda; uma mãe, da dor do parto; só eu sei o quanto amo.

sábado, 8 de setembro de 2012

Aliança na mão esquerda - questão de sedução

Conversando com uma amiga casada, uma das poucas que admiro, fiz a pergunta que tenho feito constantemente: 
- Você tem algum conselho a dar a uma noiva?
- Claro! Tenho vários!
- Sério? Mas resume em um apenas!
- Hum...
- Tipo o mais importante
- Está bem. Vou dar um que uma pessoa me deu um dia, e foi o mais bizarro e o mais eficaz de minha vida. Todos os outros, ou são bobagens, ou são consequência dele.
- Olha só, vai me dar a chave do tesouro então!
- Pior que vou, mas você vai estranhar. E antes de parar de falar comigo, me deixe explicar.
- Vixe... fiquei com medo rs
- Umas perguntas antes: Você ama o Nil?
- Claro, se estou noiva dele não é óbvio?
- Pois é, não é. Segunda: Você quer tê-lo pra sempre?
- Tá tirando onda com a minha cara, né!
- Só responda!
- Claro, se estou noiva dele, não é a ideia?
- E se estou perguntando é porque não é tão óbvio!
- Então explique, oras!
Não se surpreendam com a linguagem. Amigas de verdade têm liberdade para serem grossas sem ser grosseiras.
- Estou perguntando se quer ter o seu NAMORADO pra sempre: o cara que fez você rir, que tirou seu chão, que abalou suas estruturas, que foi a resposta de suas orações angustiadas; o cara que você olha de vez em quando e se pergunta se é verdade; o cara que é a melhor companhia do mundo, que faz seu dia a dia ficar leve, o céu azul e os problemas pequenos; o cara que faz você mudar o tom de voz para atender o telefone, a se arrumar 2 horas antes por pura ansiedade; o cara que te faz crescer e corrige seus erros com tanto carinho que você, ao invés de se irritar, agradece; o cara...
- Tá já entendi!
Vocês não entenderam a piada de minha amiga, certo? "Oras, mas era piada?" Pois é, era. Ela estava listando todas as minhas frases melosas confidentes de minha fase de namoro quando ela ligava e dizia "E ae, como vocês estão?"
- Então, você quer ESSE cara pra sempre?
- Não é utopia, não?
Eu e minha tendência madura racional de não sonhar demais...
- Hehehe... pra maioria é sim...
Engoli em seco. Sim, ela vive essa utopia. As pessoas que os conhecem sabem: eles não são perfeitos, e vez ou outra estão brigados. Faz parte. Mas, diferente de 90% dos casais que conheço, em 90% do tempo eles parecem um casal de capa de revista.
- Tá, e ae?
- Me responde, você quer ESSE cara?
- Quero...
- Não me convenceu!
- QUERO, claro que quero, quem não quer?
- Certo, você passou no teste.
- E então, qual é o conselho?
- Você está noiva dele, certo?
- Estou...
- Seduza-o!
Silêncio. Várias imagens, vários conceitos passaram em minha cabeça em segundos. Seduzi-lo?
O meu alarde tem fundamento. Essa amiga compartilha comigo de princípios morais comuns. Acreditamos que o sexo é para o casamento. Acreditamos que vale a pena esperar. E como, então, ela teria coragem de me dar um conselho desses?
- Tá aí?
- Você tá brincando, né!
- Falei que ia estranhar.
- Mas, seduzir? Deixa eu te lembrar um coisa: eu SÓ estou noiva!
- Eu fiz a mesma pergunta, e aprendi a melhor lição do mundo. Você JÁ está noiva! Elisa: seduzir não é, apenas, sexo. Na verdade, já vou te contar de antemão que sexo é fácil. Mas seduzir...
- Cara...
- Você confia em mim?
- Claro que sim!
- Eu ia te pôr numa furada?
- Acho que não...
- Então me ouve: todos os casais se amam. Um cara não vai para o altar se ele não amar. Isso é pressuposto. Como você mesma disse, que você o ama é óbvio, e que ele te ama também é óbvio. Que pessoas que passam 10, 30, 50 anos juntas se amam é óbvio, senão não dá pra aturar. Mas ter AQUELE cara encantador não é questão de amor, é questão de sedução! Quando vocês namoravam, e você voltava pra casa com cara de idiota, você já o amava? Assim, to falando de amor, tá! Eu sei que sabe que amor não é instantâneo. Amor é escolha persistente. Precisa de tempo, de entrega, de aprendizado. Isso, todas as mães e conselheiros dizem aos noivos. Mas ninguém explica o que fazer para ter o encanto, a doçura, aquela coisa que faz duas pessoas indiferentes e desconhecidas, de um dia para o outro, jogarem-se nos braços com juras e compromissos que mudam a história da vida deles. Nunca pensou que é até insanidade? Pois é... E esse estado de descoberta vicia, e é o que te mantém por perto no início, até vocês terem tempo, crises superadas e cumplicidade o suficiente para afirmar que se amam. Então, em tese, qualquer casal de noivos se amam. Mas o problema é que a maioria deles se esquece de que o que os fez sorrir no começo não era o amor, mas a sedução. Então se casam e uma hora entram em crise. Aí vem as frases que já ouviu: "curta seu namoro, porque depois que casa...". Então: seduza-o. Aprenda e treine a seduzir o homem que já ama, o homem que já confia, o homem que já é seu parceiro, seu amigo, seu confidente. Você não precisa mais pensar se pode ou não confiar nele, se ele te ama ou não. Garanto que essa sedução é mais prazerosa e gratificante, por ser madura e bem alicerçada.

A essa altura, eu já estava um tanto interessada e, admito, ansiosa. Vinda de quem veio, tal descrição até fazia sentido. E me pareceu o cheiro do doce: igual quando entramos em casa e nossa mãe fez nosso doce preferido. Você imagina, por antecipação, que o almoço vai ser bom!

- Tá, admito: você me colocou água na boca!
- Começou bem!
- O quê?
- Gostei da linguagem!
- Hahaha... viu, já tá me influenciando. Mas diga, seduzir como?
- Certo, vamos lá!

O que me contou transformou minha visão de mundo, minha postura diante da vida, com relação a mim mesma, com relação ao plano perfeito inventado por Deus, com relação ao próprio Deus. Mudou a minha forma de amar, a minha forma de sorrir e de chorar, e seus motivos. E me deu (mais) uma missão de vida.
Abaixo reescrevo as lições em texto direto, sem as interjeições e piadas.

Alguns pressupostos. 

Primeiro: Você é uma mulher, ele é um homem. Aceite isso! A nossa sociedade nos pressiona tanto à independência, à postura de mulher forte, que nos esquecemos do que é ser mulher, e às vezes eles se esquecem de serem homens. Vocês SÃO diferentes, e precisam ser pra dar certo. Vocês pensam diferente, reagem diferente, sentem diferente, e precisam ser para dar certo. Não brigue com a verdade, a use sabiamente a seu favor!


Segundo: vocês se amam. Ninguém chega ao noivado sem ter isso por subentendido. Não questione, nem se pergunte. Isso é fato: ele te ama, e você o ama. O que acontece ou deixa de acontecer não é, e nunca será, questão de "se" se amam, mas sim do "como" se amam.

Terceiro: assuma quem é. Sim, você é a mulher que ele escolheu. Ele se apaixonou por você, ele aprendeu a te conhecer, ele admira você e confia em você ao ponto de querer que seja a mulher dele, e isso inclui todas as referências do feminino que ele tem: a mãe, a irmã mais nova, as gostosas dos outdoors, as fantasiosas de filmes pornô que assistiu na adolescência, as santas que ele admira, as bem sucedidas que ele respeita. Um homem que queira se casar com você está dizendo: elejo você a ser todas as mulheres de minha vida. Então, se vai se casar com esse cara, assuma os papéis que ele propõe a você. TODOS! Se permita ser a que lava suas roupas, a que anota seus recados, a que o encanta pela ternura e caráter, a que ele pode contar no sufoco e a que ele deseja. SEJA todas elas!

Tendo estes três pilares bem fixados, seduza-o.
Seduzir um homem não é apenas tirar a roupa. É também, mas essa é a parte fácil!
Seduzir o homem que ama é fazer com que ele veja em você todas as mulheres que ele sempre quis ter, numa mulher só. E fazer isso é muito mais simples do que imagina, e você tem o noivado para treinar isso. Exatamente: noivado deveria ser, além do período de comprar um apartamento, resolver sobre finanças, criação de filhos e princípios que regerão uma família, o período em que ele vislumbra (veja bem, apenas vislumbra) que mulher ele vai ter, e que mulher você está disposta a ser.
Pra fazer isso, aprenda que sedução não é sexo. Sexo é, na verdade, resultado da sedução, mas não seu gatilho. E o que fazer no noivado, em matéria de sedução, se segue o princípio de castidade pré-matrimonial? Ora, brinque com todos os elementos da sedução que não estão na cama. Eles são a maioria, são detalhes, são sutis, e são exatamente os que os casais se esquecem de praticar com o tempo. Vamos a eles:

- sorria. Não falsamente, mas de verdade. Se permita sorrir por vê-lo, sorrir por ouvir sua voz, sorrir por pensar nele. Se permita sorrir de gratidão e de saudade, de medo e de raiva. Dê gargalhadas se a ocasião for engraçada, e sorria se perceber que ele ainda mexe com você. Sorria das contradições, das descobertas, das decisões, das irritações, das reações. Sorria se sentir um nó no peito, ou se estiver pensando: eu ainda mato ele! Sorria pelo fato de saber que não mata nada, que apesar da raiva, não passarão 10min para achá-lo, de novo, o cara mais incrível do mundo. Sorria de você mesma, de suas cries. E deixe ele ver seus sorrisos. Todos eles. Principalmente, sorria mais se a reação dele for um sorriso.

- toque. Faça-o sentir que está por perto. E ensine seu corpo e sensibilidade a procurar pela sensação de tocá-lo. Por isso, andem de mãos dadas. Roce seu cabelo, brinque com seus dedos, arrume a gola da camisa. Mesmo em situações triviais, como passar o sal, ou entregar as chaves do carro, busque o contato. E faça ele saber que é proposital. Aproveite para tocar em sua mão ao passar o copo, aproveite para arranhar seu braço ao dobrar a manga da camisa, aproveite para sentir seu cheiro ao ajeitar sua gravata. Coisas pequenas e sutis que nós, mulheres, precisamos. Tudo é combustível, e essas pequenas coisas resultam, no mínimo, num sorriso natural e espontâneo. 

- fotografe. Faça um esforço para lembrar os detalhes. Saiba quantos pontos de cor diferente ele tem na retina, e saiba de cor. Saiba quantas pintas ele tem no rosto, o desenho das linhas de suas mãos, a forma como estala o pescoço, a mania que tem ao dirigir. Deixe ele saber que você está vendo, que presta atenção e que será capaz de conhecê-lo bem, e de descrevê-lo bem. Deixe ele ter a sensação que você é capaz de lê-lo e de prevê-lo, mesmo que não seja. Deixe ele achar que você o estuda tão bem que será capaz de manipulá-lo, mesmo que não seja, ou que, mesmo sendo, não o faça (não o faça!).

- dissimule. Não é para mentir... Quero dizer que o segredo faz parte. Não conte tudo o que pensa, ou tudo o que sente, de vez, muito menos antes dele pedir. Quando vocês namoravam, você não se abria totalmente por não confiar plenamente. Agora que confia, apenas brinque com a expectativa e curiosidade dele. Você se diverte e fica interessante!

- chore sozinha. Sabemos que a maioria das nossas crises são só nossas. Seja por hormônios, ou pelo nosso sistema cognitivo, somos sensíveis. Não fuja disso, apenas aprenda a lidar. Principalmente aceite que ele, sendo homem, é prático. Ele não entender, ou não gostar, ou não achar tão interessante todas as suas crises, o tempo todo, não é porque ele não te ama (já passamos por isso, certo?), mas por ele ser homem! Então reserve um refúgio que seja só seu, curta a própria companhia (e a de Deus). Chore sozinha, fale sozinha, fique sozinha para pensar. Se permita curtir seus momentos sensíveis, mas não os empurre a ele. Eles são só seus. Aprenda a curtir um banho demorado com seus próprios pensamentos e neuras. Mas saia do banho com um sorriso no rosto. Não é culpa dele se você nasceu mulher: complexa, sensível, mutável. 

- chore com ele. Isso é raro, e deve ser, mas muito importante. Ao mesmo tempo que precisa se policiar para resolver suas crises sozinhas, permitir que ele tenha acesso a elas faz bem, tanto para você como para ele. A condição é: deixe ele pedir. Se você é interessante o suficiente, e se ele te ama e te acha a mulher da vida dele, ele se importa com o que acontece com você. Uma hora ele vai perguntar: o que está pensando? Por que está tão quieta? Ei, tá tudo bem? Tenha o bom senso de saber quando (volte aos princípios anteriores, não vá dizer tudo o tempo todo e chorar as pitangas o tempo todo), mas se permita ser acalentada de vez em quando, principalmente nos (raros) momentos em que ele estiver disposto a isso.

- presentifique-se. Faça sua imagem estar presente na vida dele, mesmo que não seja pessoalmente. O seu perfume, a sua voz, um objeto deixado no carro que seja seu (uma caneta, um brinco, um papel de bala) podem fazê-lo lembrar e pensar em você. Mas cuidado: não exagere! Seja, acima de tudo, sutil! Você está tentando seduzi-lo, e não enjoá-lo. 

- afaste-se. Deixe ele ter a vida dele. Ele vai jogar bola com os amigos, chegar em casa e ir direto pra TV, ler e-mails e sms sem te mostrar o conteúdo, tomar decisões. Deixe-o. Primeiro, por estar segura: não precisa rondá-lo o tempo todo para que ele seja seu. Segundo, também por estar segura: você não PRECISA dele, apenas o QUER. Pode muito bem se virar sozinha, almoçar sozinha, fazer compras sozinha. Se afaste por estratégia. Deixe-o passar um período SEM você para que ele se lembre que PREFERE você. Deixe-o sentir sua falta.

- entregue-se. Quando ele voltar, ou te procurar, ou quando for um momento dos dois, nem que seja apenas um cinema; quando você for o foco da atenção dele, esteja ali por inteiro. Faça dele o centro. Priorize-o. Ouça o que tem a dizer com atenção, mesmo se está distraída em como ele mexe os lábios. Inclusive, permita-se curtir os detalhes da interação. Permita-se querer observar como ele mexe os lábios ao falar de futebol, de economia e da piada que ouviu no trabalho. Permita-se curtir a oportunidade de ser o centro de atenções dele, faça desse tempo um tempo de qualidade.

Veja que são tópicos que giram e alternam entre si, e acontecem simultaneamente. E sim, é um jogo. Você precisa decidir ser a mulher sedutora, pois não a será sem pensar, o tempo todo. 

E o que fazer com suas carências? Guarde-as até o momento certo. 
Se você se tornar irresistível e encantadora, ao te procurar e ao se aproximar ele estará disposto a tudo e qualquer coisa para fazer aquela mulher incrível feliz, inclusive ouvir suas crises, dúvidas, argumentos, te ajudar com as tarefas domésticas e toda a parte prática de um casamento que tanto estressa a maioria.

E faça isso no noivado. Deixe-o com vontade de pagar pra ver que tipo de mulher a noiva dele seria se a tivesse em tempo integral. Dê uma prévia, e tenha a missão de seduzi-lo para sempre.

Eu garanto que assim terá AQUELE cara que foi o seu namorado na maior parte do tempo!




quinta-feira, 6 de setembro de 2012

As mulheres que habitam em mim

Hoje o papo é exclusivamente feminino.
Garotas, puxem a cadeira, tirem o salto, e tragam uma água gelada!

O que acontece conosco? Temos essa mania de não assumirmos nosso papel feminino e sofremos à toa!
Li, de uma sentada, o livro da Sherry Argov, e me deu raiva por dois motivos:

1- Por que não tive a ideia antes? A maioria das dicas presentes no livro eu sei desde os 17 anos. Então por que cargas d' água não escrevi isso?

2- Por que, vira e mexe, passo por períodos de "amnésia"? Me esqueço de absolutamente tudo e me torno a garota boba, comum e sem graça como 90% das garotas ingênuas são. Que coisa!
O que acontece conosco?

Não sei vocês, mas fui criada para ser autêntica. Na verdade, meus pais nem sabiam o que estavam fazendo, e creio que não foi consciente. Mas a cultura, as boas escolas, as boas companhias, o exemplo de mulheres incríveis me fizeram sonhar em ser MULHER, isso mesmo, em caixa alta! Mulher que pensa por si, que sabe o que quer, que impõe respeito e limites. Mulher verdadeira que ama profundamente, mas que escolhe e não se submete passivamente. Na linguagem de Argov, uma mulher poderosa.

E sim, a fui várias vezes. Inclusive, uma análise fria me faz admitir que as melhores coisas que conquistei até hoje na vida são frutos de épocas em que esta mulher, a segura e plena, estava no comando: quando resolvi entrar na maior universidade do país; quando resolvi amar o homem que eu quisesse; quando finquei os alicerces de minhas convicções e ideais.

Mas, todas nós sabemos, somos várias em uma. Eu, no fundo, sou basicamente duas: a Elisa travessa, risonha, segura e independente de um lado (chamemos de Elisa 1); a Elisa meiga, doce, flexível e sensível de outro (a Elisa 2). Um bom duo, verdade, quando andam juntas. O problema é quando as mulheres que habitam em mim resolvem ou brigar entre si ou mandar uma na outra. Eis o estrago.

Se sou apenas a 1, viro tirana e inconsequente. Me achando forte e intocável demais, sou capaz de me expor demais, de me arriscar demais, e de ser má a ponto de afastar oportunidades e pessoas. Mas, se sou apenas a 2, viro uma garota boba e subserviente, carente demais, medrosa demais, dócil e boba a ponto  de deixar que as pessoas me vejam por descartável, seja profissional ou relacionalmente.

Então, como usarmos as armas que estão em nós desde que nascemos? Como lidar com carências e regiões sensíveis? Como potencializar os poderes ao nosso favor? Simples: sendo MULHER, todas que somos ao mesmo tempo. Não deixe de ser segura para ser dócil, mas não deixe de ser dócil por ser segura. Ambíguo? Pois é, ambiguidade é, e deve ser, nosso sobrenome.

E caso se esqueçam disso, como acontece comigo vez por outra, encontrem uma forma de se lembrar: qualquer uma. Uma amiga, um livro, um íma de geladeira, qualquer coisa. Só não deixe de ser A mulher para ser UMA mulher!