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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Palavras de um silêncio

Palavras. A tentativa de comunicar. Às vezes basta, às vezes não. Elas me fogem, e só o fato de ficar assim, muda, é tão clichê que me irrita. Não por me sentir molestada em me ver sendo clichê; me irrita mais por ter de admitir essa verdade e não transpô-la, por me ver limitada por limites há muito tempo estabelecidos.

Como transmitir a certeza, a paz, o contentamento, a completude, a gratidão? Como descrever as sensações, as cores, os cheiros? Como mensurar e explicar o que passa por minha cabeça nos segundos em que mergulho em seus olhos?

Clichê? O maior deles! Tão humano, tão velho e tão novo. Ao mesmo tempo avassalador e comedido; ao mesmo tempo público e privado; ao mesmo tempo minúsculo e gigantesco; ao mesmo tempo sensorial e racional; ao mesmo tempo dois; duo, dual. Único. Sinestésico e vivo. Real, tão real quanto as almas, os ânimos, os pensamentos, as sensações são: invisíveis, universais, parte de nós, indefiníveis; reais. Tão reais que tornam-se clichês e banais.

Carinho, ternura, paixão, amizade, cumplicidade, sonho, sorriso, dor, canto; a sinestesia de viver: respirar, e pulsar, e suar, e estremecer, e sentir, e tocar, e chorar, tudo isso ao mesmo tempo.

E quando a serenidade do cotidiano toma conta, quando a calmaria se instaura na ausência e nas reminiscências, sobra a brisa nostálgica da sensação de vida que a tempestade trouxera. Nos esquecemos do poder assombroso que tem a vida e suas nuances, por nos ser tão familiar e banais, que quando se manifesta a ponto de nos tirar da rota, do eixo, lembramo-nos do quanto é bela e vital, do quanto precisamos delas para não apenas sobreviver, mas viver em plenitude. É quando a sensibilidade, aguçada, vê beleza em misérias: uma flor, um raio de sol, uma formiga, uma sensação do vento frio, uma batida de coração, um fôlego. Milagres.

Como transmitir em verso, prosa ou canção a vida pulsante e pungente encontrada em todos os caminhos, brilhante em todos os olhos, principalmente nums olhos? Quando uma cor de pupila, um desenho de mãos, um timbre de voz se tornam fortaleza, refúgio, espelho, berço, lima e pólvora? Vida. Sentir-se vivo, respirando profundamente, sorrindo profundamente, sonhando honestamente, esperando ansiosamente por viver uma propulsão milagrosa de vida, um discurso calado, íntimo, poderoso, mas tão trivial e cotidiano, tão pequeno e pontual, que passa despercebido a todos o seu grau de beleza e magnitude.

 O mar calmo esconde uma força que todos sabemos existir, mas não nos preocupamos com ela; uma vida que todos sabemos existir, mas não a valorizamos; esconde verdades clichês, belezas desconhecidas e milagres costumeiros. Só um cego sabe da beleza da luz; um náufrago, a força da onda; uma mãe, da dor do parto; só eu sei o quanto amo.

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