13.
A real arte
das palavras
“Enquanto a arte metafísica
vê o Universo construído com idéias puras e absolutas, e a pintura, com cores,
a arte poética será aquela que o considerar vestido de sílabas, organizado em
frases.”
(Paul Valéry, “Carta a
Mallarmé”)
“Desde os tempos antigos até
as tentativas de vanguarda, a literatura se afaina na representação do real. O
real não é representável e é porque os homens querem constantemente
representá-lo que há uma história da literatura.”
(Roland Barthes, “Aula” - 1988[1])
Se
a literatura é a tentativa de tradução da realidade, de compreensão ou
expressão, Fernando Pessoa vai além. Para ele, a literatura é criadora de
realidades, não apenas as literárias, mas as factuais. Pois para o autor, a
metalinguagem, como diz Rinaldo Gama, é dupla: é uma arte que fala de si como
criação e como criador. Os heterônimos são, nada menos, do que o drama de
autores-personagens que debatem entre si o fazer poético. Portanto, Pessoa
estava certo ao afirmar ser, basicamente, um poeta dramático. E também porque
sabemos ser a genialidade do poeta português fruto de uma realidade psicológica
particular: Fernando Pessoa construía realidades para si através da palavra desde
pequeno, ao criar Chevalier Paes.
Em
O Marinheiro, o diálogo vira
monólogo, as personagens e a cena teatral somem na bruma que as palavras das
veladoras constroem. E de pronto, o texto diz a que veio seu autor: para criar
um mundo ambíguo, onde a realidade e o mundo construídos pelas palavras
tornam-se, metalinguisticamente, a única realidade possível. A realidade
interna do sonho e da construção onírica; a realidade psicológica e os muitos eus de cada um; as realidades
construídas pelas palavras e reconstrutoras da realidade factual, uma vez que
palavras tornam-se paradigma, que por sua vez torna-se ação no mundo concreto;
a visão plasmática e metalinguística da arte literária, é que Fernando Pessoa
propunha desde o começo, desde seu texto de estreia.
Referências
Gagliardi, Caio. A
reflexividade discursiva em O Marinheiro,
de Fernando Pessoa. Revista Pitágoras, 500 – vol. 1 – Outubro 2011 – pg
113. Disponível em: http://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/pit500/article/download/11/25
Acesso em: 10 jun. 2013.
Gama, Rinaldo. Fernando Pessoa:
Plural como o universo. Disponível em: http://www2.uol.com.br/entrelivros/reportagens/fernando_pessoa_plural_como_o_universo.html. Acesso em: 11 jun. 2013.
Pessoa, Fernando. O Marinheiro. Disponível
em: http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/clubedeleituras/upload/e_livros/clle000163.pdf Acesso em: 05 jun. 2013.
[1]
In: Gama, Rinaldo. Fernando Pessoa:
Plural como o universo. Disponível em: http://www2.uol.com.br/entrelivros/reportagens/fernando_pessoa_plural_como_o_universo.html. Acesso em: 11 jun. 2013.
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