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quarta-feira, 3 de julho de 2013

Fernando Pessoa e a questão do real_parte 3

13.     A real arte das palavras

“Enquanto a arte metafísica vê o Universo construído com idéias puras e absolutas, e a pintura, com cores, a arte poética será aquela que o considerar vestido de sílabas, organizado em frases.”
(Paul Valéry, “Carta a Mallarmé”)

“Desde os tempos antigos até as tentativas de vanguarda, a literatura se afaina na representação do real. O real não é representável e é porque os homens querem constantemente representá-lo que há uma história da literatura.”
 (Roland Barthes, “Aula” - 1988[1])


            Se a literatura é a tentativa de tradução da realidade, de compreensão ou expressão, Fernando Pessoa vai além. Para ele, a literatura é criadora de realidades, não apenas as literárias, mas as factuais. Pois para o autor, a metalinguagem, como diz Rinaldo Gama, é dupla: é uma arte que fala de si como criação e como criador. Os heterônimos são, nada menos, do que o drama de autores-personagens que debatem entre si o fazer poético. Portanto, Pessoa estava certo ao afirmar ser, basicamente, um poeta dramático. E também porque sabemos ser a genialidade do poeta português fruto de uma realidade psicológica particular: Fernando Pessoa construía realidades para si através da palavra desde pequeno, ao criar Chevalier Paes.
            Em O Marinheiro, o diálogo vira monólogo, as personagens e a cena teatral somem na bruma que as palavras das veladoras constroem. E de pronto, o texto diz a que veio seu autor: para criar um mundo ambíguo, onde a realidade e o mundo construídos pelas palavras tornam-se, metalinguisticamente, a única realidade possível. A realidade interna do sonho e da construção onírica; a realidade psicológica e os muitos eus de cada um; as realidades construídas pelas palavras e reconstrutoras da realidade factual, uma vez que palavras tornam-se paradigma, que por sua vez torna-se ação no mundo concreto; a visão plasmática e metalinguística da arte literária, é que Fernando Pessoa propunha desde o começo, desde seu texto de estreia.

Referências
Gagliardi, Caio.  A reflexividade discursiva em O Marinheiro, de Fernando Pessoa. Revista Pitágoras, 500 – vol. 1 – Outubro 2011 – pg 113. Disponível em: http://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/pit500/article/download/11/25 Acesso em: 10 jun. 2013.
Gama, Rinaldo. Fernando Pessoa: Plural como o universo. Disponível em: http://www2.uol.com.br/entrelivros/reportagens/fernando_pessoa_plural_como_o_universo.html. Acesso em: 11 jun. 2013.

Pessoa, Fernando. O Marinheiro. Disponível em: http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/clubedeleituras/upload/e_livros/clle000163.pdf Acesso em: 05 jun. 2013.




[1] In: Gama, Rinaldo. Fernando Pessoa: Plural como o universo. Disponível em: http://www2.uol.com.br/entrelivros/reportagens/fernando_pessoa_plural_como_o_universo.html. Acesso em: 11 jun. 2013.

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