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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Pandora - parte 2


Droga, sou mulher!
Houve o dia em que cheguei a tais conclusões.
Como então conciliar toda a potência do feminino, toda essa capacidade inerente de envolver, de enredar, com a vontade sincera de não ser uma conquistadora tirana, e de ser levada a sério? Porque, se sou totalmente fria e invisível, mato a mulher que sou; mas se sou totalmente mulher, corro o risco de ser objeto de contemplação, apenas. Não quero apenas ser contemplada, quero ser conhecida. E isso depende de persistência e maior valor.
Apesar de ser mulher, sou pessoa. Penso e vivo trivialmente também, não respiro constantemente o sublime que pareço ser. Sim, posso sê-lo quando quero, é verdade; mas apenas quando quero! Então como ser mulher sem ter que ser sempre, plenamente, feminina, mas ao mesmo tempo, sem ser masculina?
Crise maior é outra: mais difícil do que não querer ser mulher, é querer ser não podendo. Quando as crises são superadas e aprendemos a lidar e a curtir nossa própria ambiguidade; quando enxergamos nossa própria beleza e sorrimos; quando tomamos consciência do poder que temos; NESSE estágio começamos a ficar perigosas.
O perigo de Pandora. Temos os segredos nas mãos, e temos consciência de tê-los. E a vontade enorme de conhecê-los. E de fazê-los conhecidos.
Quando a propulsão convulsionante e inebriante do feminino, sua beleza e seu mistério, se tornam conhecidos de nós mesmas e mais, quando nos toma de assalto, querendo ser por completo quem somos, ser nossa identidade; quando nos descobrimos completamente feitas do feminino sublime e pleno, confuso e irresistível; quando tomamos consciência do potencial de nosso fármaco, mortal e revigorante, dependendo de sua manipulação; quando a curiosidade de conhecer o que tem na caixa se torna maior que o medo de seu conteúdo...

...síndrome de Pandora: podemos ser mortíferas.

Mulheres de Jerusalém, eu as faço jurar: não despertem nem incomodem o amor enquanto ele não o quiser.
Ct 8. 4...

É... se precisa de muita força de vontade e de um juramento feito aos céus para conter tal turbilhão e não abrir a caixa, não ser o que se é!
Porque é preciso cuidado: é preciso entregar os segredos ao responsável nomeado pelo divino para guardá-los. Só ele saberá o que fazer com eles; e só ele será responsável por seus efeitos!
Conheço muitas garotas que ainda não se enxergaram Pandora. Não têm consciência da responsabilidade de seu potencial, nem da preciosidade de sua essência e cometem sempre o mesmo erro: se abrem ingenuamente. E se ferem constantemente.
Conheço também representantes do masculino que, sabendo da potência que temos (sim, eles nascem sabendo; nós que precisamos descobrir...) ou se deixam enredar inconsequentemente e também se machucam, ou abusam da ingenuidade de muitas e também se machucam, mesmo que não admitem. Ainda não sei qual é pior.
Mas a todos os demais, um conselho e uma (doce) ameaça, vindos de uma orgulhosa representante das filhas de Eva, Pandora, Ester, Sulamita, e qualquer outro símbolo do feminino que se quiser mencionar:
- Busquem as representantes do feminino (vulgo, mulheres) que são responsáveis. Como? Procurem as que tentam se esconder: são elas as que têm consciência do que são, do poder que têm, do perigo que representam e são capazes de escolher quando e a quem se deixam revelar (essa é a descrição que Hesíodo faz das musas ... coincidência...); seletivas, para o seu próprio bem.
- Cuidado, se for seguir o conselho acima. Porque são exatamente essas que possuem maior capacidade de ação. São invólucros de forças veladas, contidas, guardadas; forças essas cujo poder é devastador, envolvente, mortal e definitivo, caro e sem volta ... para o seu próprio bem!
Àquelas que não fazem a menor ideia do que tudo isso significa, um alerta: se olhem no espelho, antes que seja tarde demais!
“Você é um jardim fechado, minha irmã, minha noiva; você é uma nascente fechada, uma fonte selada.” Ct 4:12 - NVI

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