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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

50 tons da psicologia feminina

Elisa, sua depravada! Analisando "cinquenta tons" de novo? Sim, de novo. Estou no meio da leitura do segundo livro e gostaria de compartilhar novas leituras da obra.

Mas antes, alguns paradigmas:

1- Não, definitivamente não é apenas um livro pornográfico.
2- Isso definitivamente não é desculpa para lê-lo antes da hora. É um livro adulto, e creio que, apesar de profundas e com um certo valor, as camadas de leitura possíveis não são desculpas para entregar tal leitura a uma ingênua desavisada. Afinal, sim, tem sexo demais!

O que estou querendo dizer é que como li, e tenho lido a obra, com um certo par de óculos pré-postos, um vício literário aprendido na faculdade e um viés que muito me interessa em obras diversas, para mim Cinquenta tons, acima de tudo, levanta a questão do feminino e suas questões. E é esse o caminho das pedras proposto.

No primeiro livro, o que estava em jogo é como julgaríamos o complexo e marcado Grey (e como reagiríamos à ingenuidade exagerada de Ana). O segundo livro deixa de ser um deslumbre pornográfico para, na minha opinião, virar literatura (digo texto artístico que diz mais do que parece dizer, que levanta questões, que ensina a pensar e que lida com instâncias universais; passível de leituras). Isso porque, em "Cinquenta tons mais escuros" há a revelação do tema central, apenas apontado no primeiro: a complexidade humana.

O que de fato me saltou aos olhos foi a transformação mútua por que passam os personagens. Ana, ao mesmo tempo que cede um tanto, faz Grey ceder. E na verdade, vence: a cada página vemos a boba personagem se transformar numa mulher madura e segura, capaz de enfrentar os monstros de Grey com sabedoria e maestria. Mas ainda não é o que, para mim, é a pérola do texto.

E o que vai ficando patente é que, sim, Anastácia Steel está aí para jogar na cara de mulheres pós modernas algumas verdades sobre elas mesmas que elas não querem aceitar. Certo, vou reescrever: Ana nos aponta o dedo suavemente e diz a nós, todas as mulheres, que somos um pouco assim. E não me refiro ao debate raso sobre fetiches. Faça um esforço e vamos mais fundo nisso.

Ao admitir que ama, Ana chega à conclusão óbvia: não posso deixá-lo. E não é pautada em romantismo clichê. Não; está pautada numa característica eminentemente feminina de visão de mundo: nos satisfazemos ao satisfazer. Certo, ainda ficou com conotação sexual, vou reescrever: o prazer metafísico da mulher, sua identidade, seu estado de plenitude é alcançado quando percebe que é "a parte que faltava" do homem que ama. No fundo, queremos ser o refúgio, a salvação, o alicerce, o "jardim fechado", o oásis, o bálsamo, o esconderijo, o braço direito. Precisamos da sensação de fazermos parte da história, uma parte importante, de alguém que consideramos digno de nós. Resumindo: fazemos um mundo para ouvir "eu preciso de você"!

A reviravolta da trama do romance começa exatamente quando Christian admite que precisa de Ana, em todos os sentidos. Ela se sente parte dele a partir do momento em que se sente responsável por seu alívio. E calem-se os maliciosos, mais do que alívio físico, o psicológico.

Usando uma linguagem bíblica cristã, fomos engendradas para sermos "a ajudadora idônea". Essa é a nossa missão a partir do momento em que nos vemos sendo a mulher dos sonhos de alguém. Para esse propósito se lançam nossos impulsos, nossas motivações, nossa identidade.

Isso não significa ser menor, ser capacho, ser subserviente. Significa decidir ser a parte faltante de alguém que nos merece ter. E o mérito, como Ana quer fazer Grey ver, não está numa lista de "características essenciais" ou num padrão de perfeição; o mérito é baseado, apenas, em ser o alvo de nosso amor. Grey, em sua cabeça masculina, não se sente digno de Ana por ter tal bagagem sombria; Ana, em sua cabeça feminina, se sente realizada ao ser o que Grey precisa ter, mesmo sem merecer. Um pequeno "merchan" para meu próprio texto: amor, diz as mulheres, é uma questão de graça, e não de mérito; é escolha!

Sim, somos todas assim. Claro que o romance leva a situação ao absurdo, ao colocar uma ingênua querendo ser a parte faltante de um homem marcado por abusos e traumas inimagináveis. Mas não precisamos ir tão longe.

Pode-se perceber tais traços em qualquer casal, principalmente nos momentos castos e triviais. A namorada fica feliz quando o cara lhe confidencia um segredo, ou conta com sua ajuda para algo de sua especialidade. A mensagem, aos ouvidos dela, é confio em você e preciso de você. A esposa fica feliz com solicitações do tipo querida, passe minha camisa ou preciso que pague tal conta para mim quando tais pedidos têm o tom de conto com você, e não o de faça sua obrigação, mulher!. Coisas triviais que nos enchem de uma alegria besta por sermos parte de, por pertencermos a, não no sentido de posse, mas no de unidade, de extensão. Vira identidade.

Sabemos que os homens não fazem ideia do que seja isso, tanto que a autora de Cinquenta tons é uma mulher! Tenho minhas dúvidas se um homem seria capaz de levantar tais questões ao escrever o mesmo tema. Eles são literais, minha filha, diz a mãe de Ana, estando completamente certa. A transcendência é uma característica do feminino. Essa mania de significarmos tudo com o mais alto grau de metafísica!

Isso é universalmente mulher. E fiquei me perguntando, ao admitir esse paradigma se, apesar de absurdo o contexto, será que eu e qualquer outra mulher que admita isso não faria exatamente o que Ana faz? Será também que não pagaríamos o preço para sermos a salvadora do belo Grey marcado, ferido e torto desde o ventre? Provável que sim. Reafirmo que o contexto parece absurdo, mas o substrato encontro aqui, em todas as pequenas gentilezas que cedo ao homem que amo.

O problema é que, educadas para sermos pós-modernas, fortes, inquebráveis, mulheres que não admitem abusos e maus tratos (o que é uma grande conquista de cosmovisão), nossa fortaleza tira um pouco de nós uma característica que, se bem dosada e utilizada com bom senso (e com o cara certo) nos realiza, nos plenifica, por que não?

Assim, creio que, além de discutir fetiches bobos, a raiz da questão do boom editorial da trilogia é o questionamento: afinal, o que é ser uma mulher moderna? Podemos admitir o feminino em nós, apesar do medo histórico de nos vermos acorrentadas novamente? Será que é possível que o desejo de liberdade e dignificação do feminino, conquistado pelas gerações feministas, não tenha tirado de nós a oportunidade e a ousadia de admitirmos o feminino por inteiro, inclusive seus lados dócil, frágil, doador e submisso (sem toda a carga pejorativa do termo)? Será que, lutando em sermos fortes mutilamos  nossa mulher interior a ponto de nossa essência ser tabu, discurso magoadamente negado por medo?

Creio que faz sentido. Levantar a possibilidade de tais tons da psiquê feminina já é um tanto perigoso e polêmico, imaginem admiti-los!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

M.V.A. - Mais Velhos Anônimos (ou "Esconderijos")

Tenho alguns esconderijos, lugares só meus. Pra onde fujo quando preciso. São raras as vezes, mas elas existem, quando precisamos simplesmente nos esconder. Vou explicar.

Sofro da "síndrome da mais velha". É uma doença psicológica e, apesar do nome, nem todos os "mais velhos" têm, mas a maioria. Não sei o motivo, mas nos sentimos responsáveis, por tudo e por todos. Queremos suprir as expectativas, queremos não errar. Sentimos a necessidade visceral de sermos maduros, exemplares, líderes - sempre. Regramos nossas vidas, nossos pensamentos, nossas escolhas, nossos desejos, nossa história para que seja o discurso do "como as coisas devem ser" e "o que os maduros fazem". E isso, desde o tempo em que nem tínhamos idade para sermos maduros.

E não é culpa de ninguém em especial. Nem todos os mais velhos se sentem assim. Não é resultado direto de pressão externa, de lavagem cerebral, de educação rígida, de cobranças paternas ou sociais. Ás vezes é uma mistura de tudo, outras de nada disso. Creio que nascemos assim.

Então abrimos mão sempre, principalmente de nós mesmos. De nossa fraqueza, do direito de aprontarmos quando crianças, quando adolescentes, quando adultos... Abrimos mão do que queremos, e nos mutilamos várias vezes; arrancamos parte de nossa identidade mais íntima para sermos aquilo que todos os mais novos precisam que sejamos. A cada passo dado, a cada decisão tomada, sempre uma "nuvem de testemunhas" nos acompanha: cada ação é pensada à luz dos impactos que suas consequências provocarão nos demais, nos que se espelham em nós, nos que seguem nossos passos, nos que nos respeitam e estimam. Pesamos expectativas e consequências a cada segundo, e decidimos, na maioria das vezes, em ser o papel proposto: os responsáveis, os admiráveis, os líderes - os mais velhos. Carregamos o peso das dores dos outros, e o peso de ser o conselheiro da maioria; e carregamos com prazer. Essa é a nossa identidade.

Mas às vezes, raras vezes, surtamos. De diversas formas. Alguns têm crises de choro que ninguém vê; outros têm hobbys só deles, outros têm diários. Alguns têm amigos, outros têm cachorros. O fato é que em algum momento precisamos admitir nossa fraqueza e loucura; nossos desejos e ambições; mesmo aqueles que estão acima das regras que nós mesmo estipulamos para nós mesmos. No fundo, no fundo, somos profissionais da vida: somos os "mais velhos" com profissionalismo brilhante, mas chega a hora de irmos para casa. Às vezes precisamos fugir.

E por quê? Bom, porque nossas fraquezas assustam aqueles que vêm em nós uma fortaleza. Nosso choro assusta aqueles que vêm em nós segurança. Nossos deslizes deixam os que acreditam que somos inabaláveis, embasbacados. Nossos momentos de loucura infantil, de irresponsabilidade, de humanidade chocam. E ficamos esperando a famosa frase "Mas VOCÊ?!". Então fugimos. Pra qualquer lugar seguro em que podemos ser nós mesmos, nus e pequenos, mais uns comuns; qualquer lugar em que se tolere erros.

Eu já tive esconderijos os mais diversos. Por alguns anos, meus melhores amigos foram um refúgio. Podia xingar, chorar, falar as coisas mais absurdas e cogitar loucuras; eles sabiam que não passava de meu cansaço falando por si. E ríamos dessas bobagens depois. Outras vezes, numa época mais solitária, foi o próprio Deus e meu violão. E que bom que Ele não é o fantoche que alguns acreditam: já pensou Deus fazendo as minhas "vontades iradas e insanas"? Nem eu estaria aqui para escrever isso! Meus livros, meus sonhos: todos já foram refúgios.

Hoje não: cresci, afinal. Hoje tenho lugares. Lugares só meus, pra onde corro apenas para deixar-me ficar só. Só comigo sendo eu sem a "eu" costumeira. Só para pensar o que quiser, desejar o que quiser, chorar o que quiser, gritar o que quiser... sem consequências (claro, continuo sendo uma "mais velha", não deixaria rastros). E em meus refúgios sempre há três elementos: tempo, espaço e espelhos. Os três para apenas um objetivo: poder encontrar-me comigo. Poder ser apenas eu, sem expectativas ou responsabilidades; sem papéis tomados ou consequências.

E geralmente, independente do lugar e do meio, acabo num lugar a-tempo-e-espaço, nos braços de um homem que não mais existe materialmente, e que sempre foi o melhor refúgio. Aqui, conhecedor de toda a história, de toda a dor, de todo o peso, de todos os medos, de todas as sensações, de todos os papéis, de toda a responsabilidade, de toda a pequenez-humanidade que sou; aqui ele me olha nos olhos e diz apenas: "Eu sei, Elisa... eu entendo!". E me abraça. Suspende todas as certezas, a não ser a de que me ama, apesar de ser a única pessoa no universo a me conhecer plenamente. Traz de volta a certeza que, pelo menos com alguém, não preciso pensar para ser, pois não serei julgada. Seu amor não está baseado em expectativas ou discursos; em papéis ou imagens. Apenas em si mesmo, amor per si. Ele é meu melhor (único, por excelência) Mais Velhos Anônimos.




quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Verdade e quimera


Tenho um lado rosa que é doce
Suave e gentil
Acredita no sonho e no canto
Um tanto infantil
Quer colo, pipoca e cinema
Quer voz, violão e som
Tenho um lado rosa que é pouco
Mas basta pra virar paixão

Tenho um lado negro que é fera
Arisca e tão meu
Acredita na garra e na espera
Por pouco te mordeu
Quer brisa no rosto e caça
Quer um desafio bom
Tenho um lado negro que é pouco
Mas basta pra ser perdição

Sou cravo e canela unidos
O amargo do mel a vapor
Uma voz racional e complexa
Outra coração e tremor
Sou rosa e fera
Lucidez e torpor
Verdade e quimera
Com cheiro de amor

Me perco nas muitas que existo
E brigo comigo por pão
Me encontro ora em teu sorriso
Outra vez na solidão
Sou rosa e fera
Loucura e favor
Verdade e quimera
Com cheiro de amor

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Segundos no cérebro de uma noiva

Certo: o que faço agora? A música toca e a letra vem ao encontro do que se sente. Apesar de se esforçar por ser madura e racional, às vezes o coração fala por si, simples assim. Então tudo o que está guardado a sete chaves explode em imagens rápidas.

O sorriso doce acompanha o brilho dos olhos. A certeza de que ele sorri por dentro ao sorrir pra você. E essa certeza e brilho enchem seu ser de um quê doce e transbordante, que completa, que inunda até cair nas bordas da sua pele e suas feições; fica escrito na testa. E num encontro casual, numa conversa trivial, você se pega observando, sonhando e sorrindo por dentro. Porque adora a forma que ele mexe a boca ao sorrir; porque adora a forma que te encara para defender suas ideias ou explicar algo; e porque, na contraluz, seus olhos ficam mais verdes que o normal, deixando-os embriagadores, e por que não, sedutores demais. E é nesse exato momento que você agradece aos céus por ele não saber disso, nem de todas as outras coisas que lhe conferem um poder enorme sobre você, que você não admite facilmente, nem com frequência. E a lembrança de que ficou ali o filmando te leva a outro dia, outro sorriso. E esse te faz lembrar que ele deixou a barba crescer porque você gosta, e sem você pedir, o que te faz lembrar outra cena, a do beijo da despedida da noite anterior. E é aí que consegue sentir de novo a sensação do roçar de sua barba em seu rosto, o que a leva para o cheiro de sua pele, que você começa a sentir em todos os lugares só de lembrar; o que te leva à lembrança do sabor do beijo gosto de pizza, chocolate e coca-cola. Então, você sorri de novo. E a música ainda toca e fala tudo o que, em segundos, você foi capaz de reviver. E ela faz você lembrar do quanto ele toca bem, o quanto canta bem, e que timbre de voz delicioso... A voz te leva para milhares de portas e frases, e elas voltam a ressoar em seus ouvidos como se tivessem entrado numa máquina do tempo, presentificando tudo. E seus significados vão deixando o nó da garganta maior e mais difícil de engolir. E as frases trazem consigo as caras, os cheiros, os tons, as cores e as sensações provocadas quando da emissão de cada uma, e você se vê de novo náufrago de um mar de lembranças revoltoso, onde mal se tira a cabeça da água pra respirar e outra onda te pega desprevenida. Uma lembrança leva a outra, que leva a outra, que leva a outras... o sorriso começa a ficar molhado da água do mar interno que vaza pelos olhos, primeiro em gotas, depois em filetes. É quando você percebe que está chorando, e por quê mesmo? Ah, essa música idiota! Idiota? E não é bom estar idiotamente apaixonada pelo homem que ama? Eu te amo... a frase fica parada na ponta da língua, mas o receptor não está presente. E mesmo se estivesse, não entenderia a profundidade, não sentiria o gosto da lágrima nem veria o brilho de um sorriso espontâneo e dono de si. Mas ele deveria saber, não deveria? Que o amo assim? Mas como? Ora, envie o gatilho: a música. Mas que coisa mais... mais... emocional e sem sentido! Até parece que vai ver graça nisso... E você é uma mulher madura, segura de si, cheia de certezas racionais. Será que não parecerá infantil? Ou meloso demais? Ou bobinha demais? Não vai parecer uma crise sem sentido, ou uma carência besta? Não, sua boba, vai parecer apenas o que é: você o ama e não consegue tirá-lo da cabeça. Até parece que um homem maduro pensa isso! Vai é achar a coisa mais tonta do mundo... E é aí que outra frase, dita por aqueles lábios, tempos atrás, se apresenta como resposta: "então somos dois tontos...". Ah, quer saber? Qualquer coisa você trata trivialmente e nem conta o quanto mexeu com você. Apenas diga que lembrou dele e veja o que acontece!

Enviamos o e-mail, mas não dormimos. Um lado nosso quer que ele ache lindo e responda com um "eu também te amo". Outro insiste em afirmar que sabe que ele não vai dar a mínima, isso SE ler o e-mail. Ficamos lá, feito adolescentes, brigando com as duas mulheres que somos: a que ama racionalmente, e a que se apaixonou loucamente. Nenhuma vence; na verdade, vence o sono.

domingo, 21 de outubro de 2012

Momento apórico

Deus sempre me leva a momentos apóricos. E quando o assunto sou eu mesma, a aporia vira catarse.

Catarse, para mim, é quando desistimos de pensar, de sentir, de entender, de controlar, de prever, de precaver, de nos proteger. É quando abrimos mão, admitimos a dor, a dúvida, o medo, o orgulho, a ansiedade, a mágoa, a expectativa ou qualquer que seja a barreira que nos impede de deixar Deus ser Deus. É quando eu assumo, depois de lutar, que o soberano é Ele, e que me debatendo só conseguirei me ferir, e não farei as coisas acontecerem do meu jeito. É quando, estafados após a tempestade, assumimos que estamos perdidos na calmaria, sem saber para onde remar. Então deixamos que os ventos nos leve, crendo que quem sopra é o próprio Deus. 

Isso, claro, até meus instinto me forçarem a brigar de novo! Até que me canse de esperar, de novo! Então gladiarei de novo com as ondas tentando me afirmar sobre elas. As vezes venço; outras me perco na calmaria.



Ultimamente ando tendo momentos apóricos...

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Leituras (arrepios e nós na garganta) de um Best Seller


Terminei a leitura do Best Seler "Fifty Shades of Grey" - o "Cinquenta tons de cinza", de E L James, e gostaria de compartilhar com vocês alguns nuances, arrepios e sabores colhidos.

Em geral, é uma obra de leitura prazerosa (não pude perder a oportunidade do trocadilho), dessas que você engole o texto numa tarde, por impulso avassalador (desculpem-me o linguajar, é influência do clima).

Falando sério, ficou para mim 3 experiências numa só. Pra não virar uma orgia intelectual, vamos uma de cada vez:

- A literatura

Se tratando de texto, apesar de eu ter lido a tradução e não o original (sim, faz diferença), posso dizer que é um texto bem escrito. A construção narrativa prende a leitura logo do começo. Os flashes de consciência, quando sabemos o que a protagonista pensa, soltos nas linhas do texto colaboram para que o leitor mergulhe na proposta de se colocar no lugar de Anastasia e ver o mundo a partir de seus olhos. Por outro lado, é instigante também porque qualquer mulher não tão ingênua sente raiva da garota, depois pena. Nós, leitoras, nos pegamos pensando "Ah, fala sério, até eu entendi essa!" ou "Você não vai cair nessa, vai?" desde o início das insinuações e entrelinhas de Grey. As cenas picantes são escritas belamente, e fica claro que é um viés feminino: a expectativa montada é obra do olhar feminino da sexualidade (não que essa crítica seja novidade, isso já foi publicado na revista Época, e já comentei dela aqui; apenas reforço o fato de que também senti o mesmo), onde a mitificação e a fantasia, a pré-visualização da experiência a faz maior do que realmente é (um privilégio feminino, diga-se de passagem), e a autora explora isso. Quanto ao enredo e as camadas de leitura, não é, de fato, apenas um livro pornográfico; também. Mas percebo que não é a pornografia pura e simples que faz o leitor virar a página; acima de tudo são os temas e as questões levantadas que intrigam.

- Os temas
No fim, acabo por entender o motivo do tema que está na superfície do livro, e não é apenas porque pornografia vende; também, mas vai além. O sexo já foi tabu, já foi liberado ao extremo e agora entra em nova fase de ideologização, creio eu. Houve o tempo em que a sexualidade era reprimida ao ponto de ser assim inclusive no único ambiente em que era permitido moralmente pela sociedade - no casamento. Depois foi usado como protesto, como marca de uma geração que não reivindicava apenas a liberdade sexual, mas o traço ficou: sexo, drogas e rock 'n roll. Com a conscientização crescente, precoce e imatura às vezes, dos jovens acerca do tema, é possível vender um livro como "Cinquenta tons de cinza" nas prateleiras de destaque das maiores livrarias do país sem chocar ninguém. E mais: é possível andar com ele por baixo do braço e lê-lo no terminal de ônibus circular sem sofrer repreensões ou olhares atravessados (eu fiz o teste!). Hoje, a sexualidade não é tabu: é uma escolha. Isso tem o lado bom e o ruim, mas não é a questão aqui. O importante é entender que falar de sexo hoje implica muito mais do que falar de sacanagem. Envolve questões do tipo: o papel da mulher; o papel do masculino; as bases dos relacionamentos; os juízos de valor; a noção social de certo e errado; a noção social do bem e do mal. E é aqui que quero chegar, pois creio que é exatamente este o grande ganho da obra, que está descrito, de cara, no título: cinza. O fato de que num mundo humano, complexo, onde não sabemos a história por completo, nem todas as facetas de uma pessoa, está cada vez mais difícil taxar alguém de preto (das trevas, sombrio, vilão, imprestável, horroroso, etc) ou branco (bonzinho, acima de qualquer suspeita, perfeito, moral, etc). Somos cinza. A sociedade está cada vez mais cinza. E essa tomada de consciência pode ser boa ou ruim, o que me leva ao motivo principal porque indico a leitura do livro.

- Um mundo cinza
Quanto ao livro, o grande personagem, o de maior profundidade e que me fascinou desde as primeiras linhas (não o mesmo fascínio da protagonista, vamos deixar claro!), foi Christian Grey. A escolha do nome é sutil e proposital, e podemos perder esse detalhe na tradução: o título originalmente é "50 tons de Grey", ou seja, cinquenta tons do personagem. No entanto, a palavra "grey" é também a cor "cinza" em inglês. Com certeza E L James sabia o que fazia na escolha do título e do nome do bonitão. O personagem de muitas facetas, possuidor de 50 tons de cores morais e de humor, levanta a questão da complexidade humana. Alguém aparentemente perfeito nos padrões convencionais (rico, bonito, boa pinta, culto, etc) pode ser um monstro, cuja monstruosidade nasce de uma humanidade profunda, e por isso mesmo, fascinar? Somos capazes de entender ou julgar a complexidade humana? Não, não somos. Então onde ficam os conceitos, preto no branco, de certo e errado? Indo mais longe, cabe, num mundo cinza, um discurso claro, preto-e-branco?

Vou dar um salto, tentem me acompanhar:

Como fazer com que, num mundo complexo, onde a consciência da fraqueza humana causa empatia, compaixão e tolerância (é o que espero) o discurso bíblico preto-e-branco tenha sentido? O evangelho, afinal, tem sentido?

"Elisa do céu, como chegou aí?"

Simples: ao final do livro, pasmem, não senti nem raiva ou nojo de Grey, tampouco raiva ou julgamento de Ana. No fim, minha conclusão foi: tá, eu entendo. Consigo me ver uma Anastacia e sim (não me matem ainda) consigo entender o funcionamento psicológico de Grey. No fim, para mim, ficou a dor de saber que é mais complexo do que parece, e que julgá-los não é a resposta, apesar de ser a postura comum (pensando hipoteticamente na existência de pessoas assim). Claro que não concordo com nada. Pelo contrário, deixo claro, acho doentio e perigoso: Grey é sedutor e doente psicologicamente pelas marcas que tem; Ana é ingênua e pode se dar muito mal por isso. Mas é um quadro possível.

A pergunta final de uma crente que adora literatura é: qual o papel do evangelho num mundo cinza? Num tempo em que, graças a Deus, não há mais espaço para discursos autoritários, prepotentes e segregadores, como mostrar o conceito de graça salvadora, deixando claro que sabemos que vivemos num mundo, e somos, de seres cinzas- errantes, complexos, dignos de compaixão e carentes? E se é assim, porque o discurso "quadrado" acusador, presente na maioria dos púlpitos, lota os templos? Porque o senso comum, ao se falar do cristianismo, ainda é "pecados capitais", "culpa", "expurgação" "céu vs inferno", "anjos vs demônio", o que faz a mensagem da cruz parecer um mito, um conto da carochinha de gente atrasada e de mente pequena?

A falta dessa conscientização (a da complexidade humana, a da graça salvadora, e o não "enxergar a própria trave") tem feito a igreja cristã perder espaço, voz, e eficácia; a presença dessa conscientização tem produzido bons livros como a trilogia de E L James, as "Crõnicas de Gelo e Fogo", entre outros.

Fica o aviso: se não enxergamos (por "nós" digo todos aqueles que abraçam o cristianismo, independente da linha) de vez o cinza e não formos capazes de entendê-lo para, assim, sermos capazes de nos comunicar com ele, estaremos fadados a nos tornar um discurso empoeirado, livro velho sem voz e sem saída em sebos.

Imaginar o evangelho da cruz se transformando nisso é que, sim, me dá nó na garganta e frio na espinha!

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Mulher 3.0

"A mulher de 30 anos" de Balzac é um clássico que ainda não li, e pretendo fazê-lo antes dos 30. Como estou na fase de preparação, prestes a completar 3 pra 30 (número interesante...), ando lendo algumas coisas, e concordo com a maioria.

Sinto-me exatamente assim: no meio. Por um lado minha vida ainda tem gosto de fim da adolescência, eu não me vejo uma mulher madura. Por outro, começa a cair a ficha de que não sou tão nova mais: algumas crianças que peguei no colo já são adolescentes. E, no meu caso, piora porque algumas coisas eu fiz mais tarde do que a maioria: entrei para a faculdade tarde, comecei a namorar sério tarde. Então, agora, beirando os 30, estou terminando a primeira graduação, quando a maioria das mulheres da mesma idade está na pós, e estou noiva pela primeira vez, quando a maioria das mulheres de mesma idade está se divorciando pela primeira vez. Sim, sou um pouco devagar.

Isso porque decidi ser criança. Joguei bola na rua até os 14 anos; usei salto pela primeira vez só com 18 e ainda jogo videogame. O primeiro beijo oficial veio com 21, isso não contando os selinhos infantis. Meu primeiro emprego foi aos 22 e parei de boiar nas piadas maliciosas a partir dos 24.

Resumindo: chegar aos 30 foi fácil, e rápido, assustadoramente. E é aos 30 que começarei a ter vida de adulto, com direito a casa, carreira, pós, carro, marido, contas, e neura por academia (já a sinto antecipadamente).

Por outro lado, tenho alguns sintomas dos 30 anos: estou segura, em praticamente tudo. Já passei da fase de me perguntar se sou bonita, se sou inteligente ou se alguém vai gostar de mim; já passei da fase de não saber o que fazer, que conselho ouvir. E faz tempo que passei da fase da necessidade de autoafirmação. Neste ponto os cronistas estão certos: assumo tudo. O que penso, o que sinto, o que quero; sem rodeios, sem joguinhos, sem doce. Não fiz plástica, e sim, ao contrário das de 20, nunca fiquei. Demorei para entrar em relacionamentos, mas quando o fiz, entrei de vez. Adoro flores e minha cadela, mas não tenho as primeiras por falta de tempo para cultivá-las; adoro rosas! E já estou pensando o que fazer antes de fazer trinta: uma tatuagem? Comprar uma moto? Uma viagem do tipo mochilão ou acampar ao pé de uma cachoeira erma?
Tudo isso atraí porque são coisas que minha versão 20 sempre quis fazer mas não era madura o suficiente. Falo de sexo sem o pudor exagerado das "mocinhas", mas sem a baixeza das "rodadas". Filosofo sem a fé dos jovens, mas sem o ceticismo dos velhos. Faço planos. Me permito sonhar, e acordo cedo para trabalhar.

É bom ter quase trinta. E tenho certeza que ter 30 será melhor ainda!

http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,,EPT670368-2813,00.html

domingo, 30 de setembro de 2012

Ele me ama!

Paródia de Lucas 7. 36-50


Estava decidido: eu iria de qualquer jeito. Num ímpeto, tomei a decisão mais importante de minha vida.
Levantei-me com o rosto quente, lágrimas escorriam em meu rosto enquanto eu revirava meus pertences a procura de meu bem mais valioso.

Ganhara aquele perfume como pagamento de meu trabalho ilícito: fingir o amor. Homens, de todas as idades, e de todas as classes, me procuravam. Alguns para saciar apenas a fome do corpo. Mas a maioria em busca de saciar a sede do coração. Homens que precisavam de prazer para fugir dos problemas, de sua impotência em ser quem gostariam de ser. Homens que precisavam esbanjar o dinheiro que tinham de sobra para se afirmarem. Homens que precisavam amontoar números de mulheres para se afirmarem. Outros sozinhos, doentes por dentro, buscavam em meus braços um refúgio, a volúpia que calaria os gritos sufocantes de seus corações feridos pela dor, pela carência, pela necessidade de serem amados, de fato. Precisavam de prazer, e de amor, mesmo que fingido. E eu o fingia a todos.

Quanto a mim, com o tempo, o vazio aumentou. Como dar aquilo que não se tem? Como saciar a sede se sou poço seco? E cada vez que recebia um presente caro pelos carinhos e carícias prestadas a ferida crescia. Porque depois, quem lidava com o desprezo, com o estigma de mulher menor e desprezível, era eu. Homens que estiveram em meus braços não podiam me honrar publicamente, tão pouco me sustentar, me dar nome e dignidade. Não podiam me perdoar a ponto de me elevar a eles. Eu, que fingia o amor que precisavam, não era amada, tão pouco tolerada.

Mas aquele homem era diferente. Ele não me olhou com desprezo ou nojo, nem vergonha. Poderia até ser minha carência fazendo-me ver o que não existia, mas toda vez que encontrava com este homem nas ruas era capaz de ver em seus olhos um brilho morno e aconchegante. Não era lascivo, esse olhar eu conhecia de longe. Tão pouco era apaixonado. Era os olhos de alguém que parecia me ver, pareciam sorrir para mim.

Por muitas vezes fugi desse olhar, mas depois de tudo o que ele fez, depois de alimentar pobres, dar ouvidos a humildes e enfrentar os homens importantes da cidade e sua hipocrisia, depois de ouvir de seus atos e sua fama eu tive a certeza de que aquele homem era ungido. Era um homem de Deus, no mínimo, mas diferentemente dos demais não me olhou com olhos repreensivos. Aquele homem de Deus não me odiava.

E essa certeza, a de que um profeta não me escorraçaria, foi o suficiente para trazer a coragem e a gratidão ao meu coração. Darei a ele o perfume mais caro, o servirei, pedirei sua misericórdia.

Pensava em tudo isso parada à porta da casa. Lá dentro, o homem que me tinha olhado com ternura e compaixão comia à mesa de um fariseu. Ele comia com fariseus e com beberrões... Ele curava feridas de leprosos, abraçava mendigos, curava cegos e moribundos. Aquele homem tinha algo que eu jamais conhecera até então: amor. Amor gratuito e sincero, despretensioso e sem preconceitos. Veja o que fez com Madalena? Poderia tê-la apedrejado, mas a perdoou. Veja o que fez com o publicano...

Enquanto pensava, vi pessoas ao seu redor. Alguns cochichavam, outros riam de suas afirmações. Alguns o olhavam com desprezo, outros com fascínio. Alguns o serviam, outros queriam ser servidos por ele. Alguns seriam capaz de o matar. Eu seria capaz de beijá-lo, se pudesse! Tantos foram os beijos falsos, e juras vazias! Mas este homem...

Algo estava acontecendo. A culpa de meus erros caiu sobre mim com um peso que jamais sentira antes. Por tantos anos dei desculpas a mim mesma dizendo que não poderia ser julgada, afinal a vida fora dura comigo, e essa era a opção que me restara. Não, era desculpa. Eu era culpada, e sabia disso! Culpada de pecados inomináveis! Um filme passou por minha cabeça, e senti nojo de mim. Era suja, e emporcalhava homens e suas famílias. Meu dinheiro era sujo, minha vida era suja, cheia de um amor falso e sujo. Muito mais sujo que seus pés...

Sentado à mesa, à moda dos judeus, seus pés ficavam em minha direção. Era um homem simples, com certeza caminhou para chegar ali, e suas sandálias traziam a poeira da rua. Um homem como ele não poderia sentar-se à mesa sujo daquela maneira! Um profeta honrado deveria, pelo menos, ter quem lhe lavasse os pés!

Não possuo a lembrança de meus movimentos. Só sei que me vi sentada a seus pés, limpando-os com o perfume caro que havia trazido para presenteá-lo. Um homem honrado... Foi quando percebi que ele não se movera. Ao contrário de qualquer outro em seu lugar, não me impediu de tocá-lo, tão pouco fazia pouco caso de mim. Deixou-me limpar seus pés como se eu fosse digna disso!

O turbilhão explodiu. Não conseguia conter as lágrimas. Eu, uma indigna, uma pária, uma pecadora, podia tocar e beijar os pés daquele homem que a tantos transformou, que tantos sinais e milagres deu a conhecer, que possuía tamanha notoriedade. Não era capaz de conter os soluços. Meus cabelos, tão bem cuidados para que pudessem atrair, agora limpavam e secavam os pés do homem mais incrível e divino que vira na vida. E fazia isso sem cogitar pagamento.

"Seus pecados estão perdoados!" Ao ouvir sua voz, levantei a cabeça e encontrei-me com seu olhar. Ele sorria para mim, e seu rosto brilhava como o sol. Amor jorrava de suas palavras, e naquele instante uma paz desconhecida inundou meu peito, sem explicação. Naquele momento, sem muita lógica, eu soube:

Ele me ama!



quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Palavras de um silêncio

Palavras. A tentativa de comunicar. Às vezes basta, às vezes não. Elas me fogem, e só o fato de ficar assim, muda, é tão clichê que me irrita. Não por me sentir molestada em me ver sendo clichê; me irrita mais por ter de admitir essa verdade e não transpô-la, por me ver limitada por limites há muito tempo estabelecidos.

Como transmitir a certeza, a paz, o contentamento, a completude, a gratidão? Como descrever as sensações, as cores, os cheiros? Como mensurar e explicar o que passa por minha cabeça nos segundos em que mergulho em seus olhos?

Clichê? O maior deles! Tão humano, tão velho e tão novo. Ao mesmo tempo avassalador e comedido; ao mesmo tempo público e privado; ao mesmo tempo minúsculo e gigantesco; ao mesmo tempo sensorial e racional; ao mesmo tempo dois; duo, dual. Único. Sinestésico e vivo. Real, tão real quanto as almas, os ânimos, os pensamentos, as sensações são: invisíveis, universais, parte de nós, indefiníveis; reais. Tão reais que tornam-se clichês e banais.

Carinho, ternura, paixão, amizade, cumplicidade, sonho, sorriso, dor, canto; a sinestesia de viver: respirar, e pulsar, e suar, e estremecer, e sentir, e tocar, e chorar, tudo isso ao mesmo tempo.

E quando a serenidade do cotidiano toma conta, quando a calmaria se instaura na ausência e nas reminiscências, sobra a brisa nostálgica da sensação de vida que a tempestade trouxera. Nos esquecemos do poder assombroso que tem a vida e suas nuances, por nos ser tão familiar e banais, que quando se manifesta a ponto de nos tirar da rota, do eixo, lembramo-nos do quanto é bela e vital, do quanto precisamos delas para não apenas sobreviver, mas viver em plenitude. É quando a sensibilidade, aguçada, vê beleza em misérias: uma flor, um raio de sol, uma formiga, uma sensação do vento frio, uma batida de coração, um fôlego. Milagres.

Como transmitir em verso, prosa ou canção a vida pulsante e pungente encontrada em todos os caminhos, brilhante em todos os olhos, principalmente nums olhos? Quando uma cor de pupila, um desenho de mãos, um timbre de voz se tornam fortaleza, refúgio, espelho, berço, lima e pólvora? Vida. Sentir-se vivo, respirando profundamente, sorrindo profundamente, sonhando honestamente, esperando ansiosamente por viver uma propulsão milagrosa de vida, um discurso calado, íntimo, poderoso, mas tão trivial e cotidiano, tão pequeno e pontual, que passa despercebido a todos o seu grau de beleza e magnitude.

 O mar calmo esconde uma força que todos sabemos existir, mas não nos preocupamos com ela; uma vida que todos sabemos existir, mas não a valorizamos; esconde verdades clichês, belezas desconhecidas e milagres costumeiros. Só um cego sabe da beleza da luz; um náufrago, a força da onda; uma mãe, da dor do parto; só eu sei o quanto amo.

sábado, 8 de setembro de 2012

Aliança na mão esquerda - questão de sedução

Conversando com uma amiga casada, uma das poucas que admiro, fiz a pergunta que tenho feito constantemente: 
- Você tem algum conselho a dar a uma noiva?
- Claro! Tenho vários!
- Sério? Mas resume em um apenas!
- Hum...
- Tipo o mais importante
- Está bem. Vou dar um que uma pessoa me deu um dia, e foi o mais bizarro e o mais eficaz de minha vida. Todos os outros, ou são bobagens, ou são consequência dele.
- Olha só, vai me dar a chave do tesouro então!
- Pior que vou, mas você vai estranhar. E antes de parar de falar comigo, me deixe explicar.
- Vixe... fiquei com medo rs
- Umas perguntas antes: Você ama o Nil?
- Claro, se estou noiva dele não é óbvio?
- Pois é, não é. Segunda: Você quer tê-lo pra sempre?
- Tá tirando onda com a minha cara, né!
- Só responda!
- Claro, se estou noiva dele, não é a ideia?
- E se estou perguntando é porque não é tão óbvio!
- Então explique, oras!
Não se surpreendam com a linguagem. Amigas de verdade têm liberdade para serem grossas sem ser grosseiras.
- Estou perguntando se quer ter o seu NAMORADO pra sempre: o cara que fez você rir, que tirou seu chão, que abalou suas estruturas, que foi a resposta de suas orações angustiadas; o cara que você olha de vez em quando e se pergunta se é verdade; o cara que é a melhor companhia do mundo, que faz seu dia a dia ficar leve, o céu azul e os problemas pequenos; o cara que faz você mudar o tom de voz para atender o telefone, a se arrumar 2 horas antes por pura ansiedade; o cara que te faz crescer e corrige seus erros com tanto carinho que você, ao invés de se irritar, agradece; o cara...
- Tá já entendi!
Vocês não entenderam a piada de minha amiga, certo? "Oras, mas era piada?" Pois é, era. Ela estava listando todas as minhas frases melosas confidentes de minha fase de namoro quando ela ligava e dizia "E ae, como vocês estão?"
- Então, você quer ESSE cara pra sempre?
- Não é utopia, não?
Eu e minha tendência madura racional de não sonhar demais...
- Hehehe... pra maioria é sim...
Engoli em seco. Sim, ela vive essa utopia. As pessoas que os conhecem sabem: eles não são perfeitos, e vez ou outra estão brigados. Faz parte. Mas, diferente de 90% dos casais que conheço, em 90% do tempo eles parecem um casal de capa de revista.
- Tá, e ae?
- Me responde, você quer ESSE cara?
- Quero...
- Não me convenceu!
- QUERO, claro que quero, quem não quer?
- Certo, você passou no teste.
- E então, qual é o conselho?
- Você está noiva dele, certo?
- Estou...
- Seduza-o!
Silêncio. Várias imagens, vários conceitos passaram em minha cabeça em segundos. Seduzi-lo?
O meu alarde tem fundamento. Essa amiga compartilha comigo de princípios morais comuns. Acreditamos que o sexo é para o casamento. Acreditamos que vale a pena esperar. E como, então, ela teria coragem de me dar um conselho desses?
- Tá aí?
- Você tá brincando, né!
- Falei que ia estranhar.
- Mas, seduzir? Deixa eu te lembrar um coisa: eu SÓ estou noiva!
- Eu fiz a mesma pergunta, e aprendi a melhor lição do mundo. Você JÁ está noiva! Elisa: seduzir não é, apenas, sexo. Na verdade, já vou te contar de antemão que sexo é fácil. Mas seduzir...
- Cara...
- Você confia em mim?
- Claro que sim!
- Eu ia te pôr numa furada?
- Acho que não...
- Então me ouve: todos os casais se amam. Um cara não vai para o altar se ele não amar. Isso é pressuposto. Como você mesma disse, que você o ama é óbvio, e que ele te ama também é óbvio. Que pessoas que passam 10, 30, 50 anos juntas se amam é óbvio, senão não dá pra aturar. Mas ter AQUELE cara encantador não é questão de amor, é questão de sedução! Quando vocês namoravam, e você voltava pra casa com cara de idiota, você já o amava? Assim, to falando de amor, tá! Eu sei que sabe que amor não é instantâneo. Amor é escolha persistente. Precisa de tempo, de entrega, de aprendizado. Isso, todas as mães e conselheiros dizem aos noivos. Mas ninguém explica o que fazer para ter o encanto, a doçura, aquela coisa que faz duas pessoas indiferentes e desconhecidas, de um dia para o outro, jogarem-se nos braços com juras e compromissos que mudam a história da vida deles. Nunca pensou que é até insanidade? Pois é... E esse estado de descoberta vicia, e é o que te mantém por perto no início, até vocês terem tempo, crises superadas e cumplicidade o suficiente para afirmar que se amam. Então, em tese, qualquer casal de noivos se amam. Mas o problema é que a maioria deles se esquece de que o que os fez sorrir no começo não era o amor, mas a sedução. Então se casam e uma hora entram em crise. Aí vem as frases que já ouviu: "curta seu namoro, porque depois que casa...". Então: seduza-o. Aprenda e treine a seduzir o homem que já ama, o homem que já confia, o homem que já é seu parceiro, seu amigo, seu confidente. Você não precisa mais pensar se pode ou não confiar nele, se ele te ama ou não. Garanto que essa sedução é mais prazerosa e gratificante, por ser madura e bem alicerçada.

A essa altura, eu já estava um tanto interessada e, admito, ansiosa. Vinda de quem veio, tal descrição até fazia sentido. E me pareceu o cheiro do doce: igual quando entramos em casa e nossa mãe fez nosso doce preferido. Você imagina, por antecipação, que o almoço vai ser bom!

- Tá, admito: você me colocou água na boca!
- Começou bem!
- O quê?
- Gostei da linguagem!
- Hahaha... viu, já tá me influenciando. Mas diga, seduzir como?
- Certo, vamos lá!

O que me contou transformou minha visão de mundo, minha postura diante da vida, com relação a mim mesma, com relação ao plano perfeito inventado por Deus, com relação ao próprio Deus. Mudou a minha forma de amar, a minha forma de sorrir e de chorar, e seus motivos. E me deu (mais) uma missão de vida.
Abaixo reescrevo as lições em texto direto, sem as interjeições e piadas.

Alguns pressupostos. 

Primeiro: Você é uma mulher, ele é um homem. Aceite isso! A nossa sociedade nos pressiona tanto à independência, à postura de mulher forte, que nos esquecemos do que é ser mulher, e às vezes eles se esquecem de serem homens. Vocês SÃO diferentes, e precisam ser pra dar certo. Vocês pensam diferente, reagem diferente, sentem diferente, e precisam ser para dar certo. Não brigue com a verdade, a use sabiamente a seu favor!


Segundo: vocês se amam. Ninguém chega ao noivado sem ter isso por subentendido. Não questione, nem se pergunte. Isso é fato: ele te ama, e você o ama. O que acontece ou deixa de acontecer não é, e nunca será, questão de "se" se amam, mas sim do "como" se amam.

Terceiro: assuma quem é. Sim, você é a mulher que ele escolheu. Ele se apaixonou por você, ele aprendeu a te conhecer, ele admira você e confia em você ao ponto de querer que seja a mulher dele, e isso inclui todas as referências do feminino que ele tem: a mãe, a irmã mais nova, as gostosas dos outdoors, as fantasiosas de filmes pornô que assistiu na adolescência, as santas que ele admira, as bem sucedidas que ele respeita. Um homem que queira se casar com você está dizendo: elejo você a ser todas as mulheres de minha vida. Então, se vai se casar com esse cara, assuma os papéis que ele propõe a você. TODOS! Se permita ser a que lava suas roupas, a que anota seus recados, a que o encanta pela ternura e caráter, a que ele pode contar no sufoco e a que ele deseja. SEJA todas elas!

Tendo estes três pilares bem fixados, seduza-o.
Seduzir um homem não é apenas tirar a roupa. É também, mas essa é a parte fácil!
Seduzir o homem que ama é fazer com que ele veja em você todas as mulheres que ele sempre quis ter, numa mulher só. E fazer isso é muito mais simples do que imagina, e você tem o noivado para treinar isso. Exatamente: noivado deveria ser, além do período de comprar um apartamento, resolver sobre finanças, criação de filhos e princípios que regerão uma família, o período em que ele vislumbra (veja bem, apenas vislumbra) que mulher ele vai ter, e que mulher você está disposta a ser.
Pra fazer isso, aprenda que sedução não é sexo. Sexo é, na verdade, resultado da sedução, mas não seu gatilho. E o que fazer no noivado, em matéria de sedução, se segue o princípio de castidade pré-matrimonial? Ora, brinque com todos os elementos da sedução que não estão na cama. Eles são a maioria, são detalhes, são sutis, e são exatamente os que os casais se esquecem de praticar com o tempo. Vamos a eles:

- sorria. Não falsamente, mas de verdade. Se permita sorrir por vê-lo, sorrir por ouvir sua voz, sorrir por pensar nele. Se permita sorrir de gratidão e de saudade, de medo e de raiva. Dê gargalhadas se a ocasião for engraçada, e sorria se perceber que ele ainda mexe com você. Sorria das contradições, das descobertas, das decisões, das irritações, das reações. Sorria se sentir um nó no peito, ou se estiver pensando: eu ainda mato ele! Sorria pelo fato de saber que não mata nada, que apesar da raiva, não passarão 10min para achá-lo, de novo, o cara mais incrível do mundo. Sorria de você mesma, de suas cries. E deixe ele ver seus sorrisos. Todos eles. Principalmente, sorria mais se a reação dele for um sorriso.

- toque. Faça-o sentir que está por perto. E ensine seu corpo e sensibilidade a procurar pela sensação de tocá-lo. Por isso, andem de mãos dadas. Roce seu cabelo, brinque com seus dedos, arrume a gola da camisa. Mesmo em situações triviais, como passar o sal, ou entregar as chaves do carro, busque o contato. E faça ele saber que é proposital. Aproveite para tocar em sua mão ao passar o copo, aproveite para arranhar seu braço ao dobrar a manga da camisa, aproveite para sentir seu cheiro ao ajeitar sua gravata. Coisas pequenas e sutis que nós, mulheres, precisamos. Tudo é combustível, e essas pequenas coisas resultam, no mínimo, num sorriso natural e espontâneo. 

- fotografe. Faça um esforço para lembrar os detalhes. Saiba quantos pontos de cor diferente ele tem na retina, e saiba de cor. Saiba quantas pintas ele tem no rosto, o desenho das linhas de suas mãos, a forma como estala o pescoço, a mania que tem ao dirigir. Deixe ele saber que você está vendo, que presta atenção e que será capaz de conhecê-lo bem, e de descrevê-lo bem. Deixe ele ter a sensação que você é capaz de lê-lo e de prevê-lo, mesmo que não seja. Deixe ele achar que você o estuda tão bem que será capaz de manipulá-lo, mesmo que não seja, ou que, mesmo sendo, não o faça (não o faça!).

- dissimule. Não é para mentir... Quero dizer que o segredo faz parte. Não conte tudo o que pensa, ou tudo o que sente, de vez, muito menos antes dele pedir. Quando vocês namoravam, você não se abria totalmente por não confiar plenamente. Agora que confia, apenas brinque com a expectativa e curiosidade dele. Você se diverte e fica interessante!

- chore sozinha. Sabemos que a maioria das nossas crises são só nossas. Seja por hormônios, ou pelo nosso sistema cognitivo, somos sensíveis. Não fuja disso, apenas aprenda a lidar. Principalmente aceite que ele, sendo homem, é prático. Ele não entender, ou não gostar, ou não achar tão interessante todas as suas crises, o tempo todo, não é porque ele não te ama (já passamos por isso, certo?), mas por ele ser homem! Então reserve um refúgio que seja só seu, curta a própria companhia (e a de Deus). Chore sozinha, fale sozinha, fique sozinha para pensar. Se permita curtir seus momentos sensíveis, mas não os empurre a ele. Eles são só seus. Aprenda a curtir um banho demorado com seus próprios pensamentos e neuras. Mas saia do banho com um sorriso no rosto. Não é culpa dele se você nasceu mulher: complexa, sensível, mutável. 

- chore com ele. Isso é raro, e deve ser, mas muito importante. Ao mesmo tempo que precisa se policiar para resolver suas crises sozinhas, permitir que ele tenha acesso a elas faz bem, tanto para você como para ele. A condição é: deixe ele pedir. Se você é interessante o suficiente, e se ele te ama e te acha a mulher da vida dele, ele se importa com o que acontece com você. Uma hora ele vai perguntar: o que está pensando? Por que está tão quieta? Ei, tá tudo bem? Tenha o bom senso de saber quando (volte aos princípios anteriores, não vá dizer tudo o tempo todo e chorar as pitangas o tempo todo), mas se permita ser acalentada de vez em quando, principalmente nos (raros) momentos em que ele estiver disposto a isso.

- presentifique-se. Faça sua imagem estar presente na vida dele, mesmo que não seja pessoalmente. O seu perfume, a sua voz, um objeto deixado no carro que seja seu (uma caneta, um brinco, um papel de bala) podem fazê-lo lembrar e pensar em você. Mas cuidado: não exagere! Seja, acima de tudo, sutil! Você está tentando seduzi-lo, e não enjoá-lo. 

- afaste-se. Deixe ele ter a vida dele. Ele vai jogar bola com os amigos, chegar em casa e ir direto pra TV, ler e-mails e sms sem te mostrar o conteúdo, tomar decisões. Deixe-o. Primeiro, por estar segura: não precisa rondá-lo o tempo todo para que ele seja seu. Segundo, também por estar segura: você não PRECISA dele, apenas o QUER. Pode muito bem se virar sozinha, almoçar sozinha, fazer compras sozinha. Se afaste por estratégia. Deixe-o passar um período SEM você para que ele se lembre que PREFERE você. Deixe-o sentir sua falta.

- entregue-se. Quando ele voltar, ou te procurar, ou quando for um momento dos dois, nem que seja apenas um cinema; quando você for o foco da atenção dele, esteja ali por inteiro. Faça dele o centro. Priorize-o. Ouça o que tem a dizer com atenção, mesmo se está distraída em como ele mexe os lábios. Inclusive, permita-se curtir os detalhes da interação. Permita-se querer observar como ele mexe os lábios ao falar de futebol, de economia e da piada que ouviu no trabalho. Permita-se curtir a oportunidade de ser o centro de atenções dele, faça desse tempo um tempo de qualidade.

Veja que são tópicos que giram e alternam entre si, e acontecem simultaneamente. E sim, é um jogo. Você precisa decidir ser a mulher sedutora, pois não a será sem pensar, o tempo todo. 

E o que fazer com suas carências? Guarde-as até o momento certo. 
Se você se tornar irresistível e encantadora, ao te procurar e ao se aproximar ele estará disposto a tudo e qualquer coisa para fazer aquela mulher incrível feliz, inclusive ouvir suas crises, dúvidas, argumentos, te ajudar com as tarefas domésticas e toda a parte prática de um casamento que tanto estressa a maioria.

E faça isso no noivado. Deixe-o com vontade de pagar pra ver que tipo de mulher a noiva dele seria se a tivesse em tempo integral. Dê uma prévia, e tenha a missão de seduzi-lo para sempre.

Eu garanto que assim terá AQUELE cara que foi o seu namorado na maior parte do tempo!




quinta-feira, 6 de setembro de 2012

As mulheres que habitam em mim

Hoje o papo é exclusivamente feminino.
Garotas, puxem a cadeira, tirem o salto, e tragam uma água gelada!

O que acontece conosco? Temos essa mania de não assumirmos nosso papel feminino e sofremos à toa!
Li, de uma sentada, o livro da Sherry Argov, e me deu raiva por dois motivos:

1- Por que não tive a ideia antes? A maioria das dicas presentes no livro eu sei desde os 17 anos. Então por que cargas d' água não escrevi isso?

2- Por que, vira e mexe, passo por períodos de "amnésia"? Me esqueço de absolutamente tudo e me torno a garota boba, comum e sem graça como 90% das garotas ingênuas são. Que coisa!
O que acontece conosco?

Não sei vocês, mas fui criada para ser autêntica. Na verdade, meus pais nem sabiam o que estavam fazendo, e creio que não foi consciente. Mas a cultura, as boas escolas, as boas companhias, o exemplo de mulheres incríveis me fizeram sonhar em ser MULHER, isso mesmo, em caixa alta! Mulher que pensa por si, que sabe o que quer, que impõe respeito e limites. Mulher verdadeira que ama profundamente, mas que escolhe e não se submete passivamente. Na linguagem de Argov, uma mulher poderosa.

E sim, a fui várias vezes. Inclusive, uma análise fria me faz admitir que as melhores coisas que conquistei até hoje na vida são frutos de épocas em que esta mulher, a segura e plena, estava no comando: quando resolvi entrar na maior universidade do país; quando resolvi amar o homem que eu quisesse; quando finquei os alicerces de minhas convicções e ideais.

Mas, todas nós sabemos, somos várias em uma. Eu, no fundo, sou basicamente duas: a Elisa travessa, risonha, segura e independente de um lado (chamemos de Elisa 1); a Elisa meiga, doce, flexível e sensível de outro (a Elisa 2). Um bom duo, verdade, quando andam juntas. O problema é quando as mulheres que habitam em mim resolvem ou brigar entre si ou mandar uma na outra. Eis o estrago.

Se sou apenas a 1, viro tirana e inconsequente. Me achando forte e intocável demais, sou capaz de me expor demais, de me arriscar demais, e de ser má a ponto de afastar oportunidades e pessoas. Mas, se sou apenas a 2, viro uma garota boba e subserviente, carente demais, medrosa demais, dócil e boba a ponto  de deixar que as pessoas me vejam por descartável, seja profissional ou relacionalmente.

Então, como usarmos as armas que estão em nós desde que nascemos? Como lidar com carências e regiões sensíveis? Como potencializar os poderes ao nosso favor? Simples: sendo MULHER, todas que somos ao mesmo tempo. Não deixe de ser segura para ser dócil, mas não deixe de ser dócil por ser segura. Ambíguo? Pois é, ambiguidade é, e deve ser, nosso sobrenome.

E caso se esqueçam disso, como acontece comigo vez por outra, encontrem uma forma de se lembrar: qualquer uma. Uma amiga, um livro, um íma de geladeira, qualquer coisa. Só não deixe de ser A mulher para ser UMA mulher!

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Site

Olá a todos, meus caros leitores!

Tenho a alegria e o prazer de compartilhar com todos o lançamento de meu site.
Exatamente! Um site oficial com biografia, músicas, trechos de obras, etc.

www.elisasantoro.net.br

Aguardo a visita de todos!

Abraços

terça-feira, 14 de agosto de 2012

O mercado editorial e suas nuances

Olá, caros leitores de Esfinge.

A confusão dos blogs os deixou atordoados, sei disso.
Portanto, para me desculpar, farei o que muitos estão me pedindo por e-mail e ao vivo: em breve postarei o restante do primeiro livro da saga!

Por ora, gostaria de compartilhar com vocês as primeiras impressões de um livro que está prometendo ser mais um Best Seller americano: a obra "50 tons de cinza", de E.L. James.


Na verdade, é uma trilogia erótica nascida como releitura da saga Crepúsculo. Começou na tentativa de explorar a tensão sexual que havia entre Bella e seu vampiro preferido Edward, abafada e não explorada pela autora Stephanie Meyer.

Fiquei sabendo da obra por uma reportagem na revista Época e fui à caça. Li várias reportagens e críticas. O que mais me chamou a atenção não foi a discussão em torno do erotismo literário, tão pouco a questão da submissão feminina, o que, dizem alguns, é traço velado do século 21. Na verdade me intriga o boom editorial em torno da obra, o que me fez lembrar todos os outros que presenciei e pude acompanhar.

Não li a saga "Crepúsculo", mas pretendo tê-la. Não li todos os livros de "Harry Potter", não cheguei perto das "Crônicas de Gelo e Fogo"; e tudo isso não por preconceito, mas por pura falta de tempo. Os clássicos obrigatórios do curso de Letras tomam todo o meu tempo livre.

Mas, fazendo um link com reflexões de um professor, também editor, Augusto Massi, editor da Cosac Naify, aprendi a ver os livros, também, como produtos de um mercado. O que faz um livro famoso? O que faz um livro vender? O que faz de um livro, um clássico? Um Best Seller? Uma obra traduzida em todo o mundo?

A minha resposta ingênua de anos atrás diria: sua qualidade literária, oras. Nem sempre. Por vezes, um livro vende por saber ser comercial: o tema é comercial, a publicidade é comercial. Outras, ele tem um conteúdo que vem ao encontro de anseios e características de sua geração.

Mas o que é, de fato, qualidade literária? Temos a tendência de comparar com os grandes da literatura, pesar linguagem, camadas de leitura, elaboração de enredo, novidade artística etc. para julgarmos o valor de uma obra. Mas esse viés é falho.

"O Conde de Monte Cristo" de Alexandre Dumas, o maior boom editorial de seu tempo, foi considerado pela crítica da época um livro comercial e menor. Sinceramente, acho a construção narrativa dele genial, todo o mundo acha. Hoje. Mas, na época, colocado ao lado dos grandes, era livro que vendia, apenas.

Peraí...

A MAIORIA dos livros que entraram para a história, um dia, foram livros "comerciais", salvos exceções. E tais exceções são casos de livros que a academia estuda por sua qualidade mas ninguém nunca ouviu falar deles até entrar na faculdade. Hum...

Qual seria, então, a literatura propriamente dita? Creio eu que seja aquilo que as pessoas leem!

Calma, não me confundam com uma ingênua de novo. Eu sei do outro lado, já estive lá. Há obras que lemos porque tiveram o privilégio de possuirem estrutura, capital e... capital para se fazerem popular. Sei disso. Num mundo mercadológico, o dinheiro conta muito.

Mas e esses textos que se popularizam na net, gratuitamente, e viram livros? Houve publicidade, de fato? Ou interesse e o bom e velho boca-a-boca? E se houve, ele incitou interesse. E se o fez é porque algo no livro fala a seu público diretamente. O quê? Só lendo pra saber!

Li uma crítica quanto ao citado livro de James dizendo que ele chama atenção por ser pornográfico. Admito: a pornografia vende, demais! Exatamente por ser intrinsicamente humana e universal. Mas o livro não é apenas uma obra pornô. Vem ao encontro de um perfil social, psicológico, ideológico da mulher e seus papéis, e seu subconsciente. Um viés interessante, vamos admitir.

O que quero dizer é que todo livro é reflexo não apenas de seu autor, mas da sociedade em que está inserido. E se vende, questões de mercado à parte, vende porque encontra no público que o lê um quê de cumplicidade, de encontro espelhar, de intimidade. Aquele "nossa, parece que o autor me conhece...". E isso é, ou não é, literatura?





Abaixo alguns artigos e reportagens do Best Seller do momento:

http://50tonsdecinza.com.br/

http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/%E2%80%98cinquenta-tons-de-cinza%E2%80%99-guia-de-sexo-para-fas-de-%E2%80%98crepusculo%E2%80%99

http://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2012/07/29/cinquenta-tons-de-cinza-ganha-leitores-pela-narrativa-libertina-embora-tomada-de-cliches.htm

http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/ata-me

http://perdidasnabiblioteca.blogspot.com.br/2012/07/50-tons-de-cinza-ganha-destaque-na.html




sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Inspiração: carros - Leila


Olá a todos!

Uma curiosidade sobre o livro Esfinge:

Quando precisei escolher um carro para ser o carro de Leila D'Paula, dei uma olhada em vários. Eis a imagem de alguns:

Porche Cayman S Black Edition (http://www.porsche.com.br/)
Ferrari F50
Ford Camaro
Lamborghini

No entanto, o grande ganhador, o que achei que tinha mais a cara da personagem, foi o Jaguar R abaixo. As fotos foram retiradas do site oficial da empresa (www.jaguar.com):











Agora é só imaginar este carro na cor preta com os itens citados no livro.
Mas vamos combinar: nem precisava ter armas escondidas e ser um carro de um agente secreto para ser espetacular, não acham?


Detesto gramática!

Olá a todos!

Lembro-me de usar essa frase várias e várias vezes na vida: detesto gramática! Depois de crescidinha entendi o motivo: eu detestava a forma como me faziam aprender gramática, e não ela per si. Aquela mania de "é assim porque sim" ou "porque é regra" me enervava. A postura de "engole aí" então era pior, me dava vontade de gritar "Ei, não sou tão burra, pode me explicar que eu vou entender!!". Com o tempo aprendi, também, que muitas das não-respostas de meus professores eram indício, apenas, de ignorância: eles também não sabiam. Não vou entrar na questão da educação que tiveram, se era falta de vontade ou falta de instrução de qualidade: é uma discussão complexa.

O que quero afirmar é que, hoje, não odeio mais a gramática. Ela tem, sim, razão de ser, e mais, ela tem, sim, EXPLICAÇÃO! A questão é que algumas levam certo tempo pra explicar, e nem todas as explicações cabem numa grade de ensino fundamental e médio. Uma dica: professores, não digam "porque sim"! Expliquem:

"Tem explicação, mas não posso dar agora porque, ao invés de te ajudar, complicaria. Se realmente importar, espere ter maior maturidade na matéria, busque esse conhecimento mais profundo sim, quando puder entendê-lo. Agora, aprenda a regra; e acredite em mim. Um dia você entende!"

Ao contrário do que muitos pensam, ser sincero com o aluno assim vai causar duas, e apenas duas, reações: ou ele fica com a pulga atrás da orelha e, com o tempo, se embrenha cada vez mais nas trilhas llinguísticas, ou entende que não lhe interessa e fica satisfeito em aprender o que precisa saber no momento. Em todo caso, o "eu odeio gramática" fica, assim, prevenido. Ou se apaixona por ela, ou se convive bem, como se convive com manuais de instruções.

Enfim, por saber de tudo isso, e por ter experimentado na pele o ódio, depois a curiosidade nervosa, depois a curiosidade acadêmica, e por fim, a compreensão prazerosa, é que me ponho a tirar dúvidas, no que eu puder, acerca da tal mal-famada e odiada gramática do português.

Quero deixar beeeem claro que não sou (ainda) uma mestre no assunto; o que sei é o conhecimento de quem tem uma boa graduação crítica na bagagem, conhecimento de alguém que aprendeu a buscar respostas com quem as tem, apenas. Não sou autoridade final, apenas auxilio a encontrar o caminho das pedras.

Beleza?

Então se tem alguma dúvida em especial, mande que tentarei responder.
Os próximos posts terão temas como crase, nova ortografia, sintaxe, pontuação, e pegadinhas diversas.

Para acompanhar, fique ligado nos marcadores. Os posts estarão marcados, como esse, com o marcado "Gramática", pra ficar de fácil localização.

Então, até!

Abrass

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Palavras de um silêncio


Palavras. A tentativa de comunicar. Às vezes basta, às vezes não. Elas me fogem, e só o fato de ficar assim, muda, é tão clichê que me irrita. Não por me sentir molestada em me ver sendo clichê; me irrita mais por ter de admitir essa verdade e não transpô-la, por me ver limitada por limites há muito tempo estabelecidos.

Como transmitir a certeza, a paz, o contentamento, a completude, a gratidão? Como descrever as sensações, as cores, os cheiros? Como mensurar e explicar o que passa por minha cabeça nos segundos em que mergulho em tais olhos?

Carinho, ternura, paixão, amizade, cumplicidade, sonho, sorriso, dor, canto; a sinestesia de viver: respirar, e pulsar, e suar, e estremecer, e sentir, e tocar, e chorar, tudo isso ao mesmo tempo.

E quando a serenidade do cotidiano toma conta, quando a calmaria se instaura na ausência e nas reminiscências, sobra a brisa nostálgica da sensação de vida que a tempestade trouxera. Nos esquecemos do poder assombroso que tem a vida e suas nuances, por nos ser tão familiar e banais, que quando se manifesta a ponto de nos tirar da rota, do eixo, lembramo-nos do quanto é bela e vital, do quanto precisamos delas para não apenas sobreviver, mas viver em plenitude. É quando a sensibilidade, aguçada, vê beleza em misérias: uma flor, um raio de sol, uma formiga, uma sensação do vento frio, uma batida de coração, um fôlego. Milagres.

Como transmitir em verso, prosa ou canção a vida pulsante e pungente encontrada em todos os caminhos, brilhante em todos os olhos, principalmente nums olhos? Quando uma cor de pupila, um desenho de mãos, um timbre de voz se tornam fortaleza, refúgio, espelho, berço, lima e pólvora? Vida. Sentir-se vivo, respirando profundamente, sorrindo profundamente, sonhando honestamente, esperando ansiosamente por viver uma propulsão milagrosa de vida, um discurso calado, íntimo, poderoso, mas tão trivial e cotidiano, tão pequeno e pontual, que passa despercebido a todos o seu grau de beleza e magnitude.

Clichê? O maior deles! Tão humano, tão velho e tão novo. Ao mesmo tempo avassalador e comedido; ao mesmo tempo público e privado; ao mesmo tempo minúsculo e gigantesco; ao mesmo tempo sensorial e racional; ao mesmo tempo dois; duo, dual. Único. Sinestésico e vivo. Real, tão real quanto as almas, os ânimos, os pensamentos, as sensações são: invisíveis, universais, parte de nós, indefiníveis; reais. Tão reais que tornam-se clichês e banais.

O mar calmo esconde uma força que todos sabemos existir, mas não nos preocupamos com ela; uma vida que todos sabemos existir, mas não a valorizamos; esconde verdades clichês, belezas desconhecidas e milagres costumeiros. Só um cego sabe da beleza da luz; um náufrago, da força da onda; uma mãe, da dor do parto; só eu sei o quanto amo.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Onde está o seu coração?



Mc 11. 1-26; Lucas 19. 36-40

A entrada triunfal de Jesus é o único momento que vemos o Senhor ser aclamado, publicamente, como rei. Ele entra na cidade e a reação das pessoas é gritar com força a sua presença ali e o que essa presença significava. Ali estava aquele que vinha em nome do Altíssimo. Ali estava o descendente da casa de Davi. Ali estava a solução para seus problemas. E tomados de alegria e júbilo, eles se despem de seus mantos e fazem um caminho, um tapete vermelho improvisado para o rei dos reis com as próprias roupas. Uma reação natural de quem tem o júbilo e o louvor pulsando em seus corações.

Lucas conta que os fariseus, vendo a festa de celebração como algazarra popular, e, no fundo, querendo que Jesus os impedisse de aclamá-lo rei, o que daria um problema político, pediram a Cristo que mandassem que seus discípulos se calassem. Se fizesse isso, Jesus estaria dizendo que, realmente, era apenas a celebração de um povo inculto, nada muito sério, e que ele, sabendo o significado de tudo aquilo, se colocava na posição de alguém que negava o louvor que lhe era concedido. Jesus sairia por politicamente correto. Mas claro que Jesus não pensava nem um pouco como os fariseus. Ele era, sim, o enviado, o ungido do Senhor. Fato. Digno de louvor, de aclamação, de saudação, de júbilo, de culto. E isso era tão palpável e tão verdadeiro que, se as pessoas não o aclamassem, as pedras o fariam. Uma verdade incontestável não pode ser calada. Nem que, sobrenaturalmente, as pedras o façam, mas precisa ser dita. Alguém precisa louvar seu nome e sua presença, pois é impossível à criação estar diante do rei e não se curvar, e não se despir de suas capas e de seu conforto para ofertar a ele como culto.

Um coração que conhece o Mestre, sua glória, sua majestade, o adora espontaneamente. Um coração que pulsa pela intervenção divina, pela presença do altíssimo, ao senti-la, instantaneamente se prostra, se despe, adora. Assim como uma roseira, no tempo certo, dá rosas naturalmente, um adorador adora naturalmente.

Nem sempre. Somos capazes de fingir. Somos capazes de camuflar. Somos capazes de sugestionar algo que não somos. Somos capazes de parecer, de simular, de vender o peixe que não temos.

Depois de ser aclamado na entrada de Jerusalém, Jesus vai ao templo. Qual expectativa que se tem ao, na entrada, ver um templo cheio? Você pensa: “Poxa, que bênção! As pessoas estão buscando a Deus! A casa do Senhor está cheia!”. Jesus entra no templo e vê que a casa de oração, de fato, era casa de escambo. Vê que aquela multidão está ali atrás de lucro próprio. Então ele vira a mesa!

Mas antes, no caminho, Jesus, com fome, se depara com uma figueira. Um detalhe: não era tempo de figos. A figueira dá os frutos antes das folhas ficarem verdes e viçosas. Ou seja, uma figueira com folhas pressupõe frutos maduros. Apesar de ser fora do tempo, a figueira parecia, aos olhos de Jesus, frutífera. Mas quando Jesus se aproxima, era só aparência; era só discurso, eram cânticos bem ensaiados, gestos vazios, mãos levantadas e vidas vazias. A figueira era um ser falso: existia para frutificar, mas não frutificava. Então Jesus vaticina: “ninguém mais coma de seu fruto!”. Você não serve, você engana, você cria uma expectativa irreal, você é falsa, você é só aparência. Seque e morra porque uma figueira que não dá fruto não serve pra nada.

Um adorador que não adora, não serve pra nada. Um coração que não pulse está morto. Uma vontade que não queira, não é vontade. A aparência não é a verdade. Um culto fingido não é culto.

O que faz o seu coração pulsar? O que faz o seu coração cantar? Você é alguém capaz de sentir a presença do rei? Você estende a sua capa para que ele a use por caminho? Você canta alegremente para que todos saibam que ele está ali? Ou você é um templo onde não há oração mas escambo, uma figueira frondosa sem figos, um adorador de fachada? Sinceramente, a sua vontade pulsa, anseia, deseja, ferve por estar ali louvando e bendizendo aquele que veio em nome do Senhor? Ou é obrigação, é o politicamente correto para um crente de x anos, é o que se espera de um filho de crente... afinal, não posso faltar hoje, não posso não tocar, o que vão pensar de mim? Não posso não fechar os olhos, não posso não cantar, isso gera perguntas indesejadas...

Mt 6. 21 : “Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração”. Qual é o item de maior valor para você em sua vida? Não sabe? Simples: o que consome seu tempo, seu dinheiro, seus pensamentos em, pelo menos, 60% do dia? Aquilo que você não abre mão, por nada? Aquilo que pesa em suas decisões diárias, o que é?

O seu coração, de fato, pulsa pela presença do rei? O seu coração, de fato, se alegra com o reino do rei? O seu primeiro impulso é tirar a capa e dançar e cantar na presença dEle? Seja onde for, a hora que for, independente do preço a ser pago? Você é um adorador que adora?


Onde está o seu coração?



In: http://equipelouvoribbn.blogspot.com.br/